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ALTINHO URBANO: A REVOLTA DAS ÁGUAS ESCRITO POR ANTONIO AÍRTON


De todos os seres vivos do nosso Planeta, o ser humano é o maior modificador da natureza. Utilizando-se de diferentes técnicas modifica o curso dos rios, aumenta a produtividade agrícola, transforma áreas de florestas em espaço de criação de animais, explora minérios, apropria-se do espaço modificando-o e criando “novas paisagens”.
É preciso lembrar que, no início da história da humanidade, o ser humano pouco modificava as paisagens terrestres. Aproveitava os recursos naturais, utilizando o necessário para a sua sobrevivência; ao contrário de hoje, que, em nome do capitalismo do consumismo e do imperialismo, a maioria das transformações realizadas pelos seres humanos gerou grandes problemas ambientais. Por isso, vez por outra o inesperado acaba acontecendo, as tragédias vão nos surpreendendo, as catástrofes, as epidemias, o desequilíbrio ecológico...
O inesperado nos surpreende. É que na maioria das vezes nos instalamos de maneira muito segura em nossas teorias e ideias e estas não têm estrutura para receber o novo. E, o novo, brota sem parar, não podemos jamais prever como se apresentará, mas deve-se esperar o inesperado. E quando o inesperado se manifesta é preciso ser capaz de rever nossas teorias, ideias e práticas, ao invés de deixar o fato novo entrar à força nas teorias que estão sendo incapaz de recebe-lo.
Um erro dantesco do ser humano é o de beneficiar-se das técnicas, mas não se submeter a elas; durante séculos os especialistas embasados na ideia de trabalhar para a razão e para o progresso, acabaram por empobrecer ao enriquecer, destruíram ao criar.
Para se ter uma ideia, por todo o planeta, o desmatamento e a retirada das árvores em milhares de hectares contribuíram para o desequilíbrio hídrico e a desertificação das terras. Disso e de algo mais resultam as catástrofes cujas vítimas e cujas consequências não são reconhecidas nem contabilizados como se faz com as vítimas das catástrofes naturais.
O século XX foi marcado pela produção de avanços gigantesco em todas as áreas do conhecimento científico bem como em todos os campos da técnica. Contudo, ao mesmo tempo, produziu nova cegueira para os problemas globais, e esta cegueira gerou inúmeros erros e ilusões, principalmente por parte dos cientistas.
Mas será que será que para transformar, produzir e consumir, é preciso destruir? A Terra tem mais de 4,5 bilhões de anos e durante todo esse tempo tem passado por grandes mudanças. Ultimamente até mesmo as regiões menos desenvolvidas, menos industrializadas ou mesmo sem indústrias têm sofrido grandes consequências por parte da ação humana sobre a natureza.
No caso das pequenas cidades do interior de cada Estado Brasileiro, por exemplo, elas já não são as mesmas cidades de quatro ou cinco décadas atrás, apenas a estrutura é que não se modificou, tipo: saneamento básico, o sistema e construção de casas populares, os problemas de saúde pública, dentre outros. O êxodo rural é um problema social grave e constante, as cidades inflam, crescem as vilas e os “mutirões”, e as pessoas não vêm morar no centro da cidade não, vêm para a periferia e outras passam a ocuparem as margens dos rios porque o terreno é mais barato ou não custa nada. Em contra partida destroem as barreiras para
tirarem o barro e a areia para a construção as casas e por conta disso os rios vão se aproximando cada vez mais e de maneira sutil da zona urbana.
Na cidade de Altinho, por exemplo, as margens do Rio Uma e as margens do “Pontilhão”
estão completamente modificadas e irreconhecíveis. O lado do Pontilhão onde há o encontro deste com o Rio Uma, a destruição das barreiras para a retirado descontrolada do barro é tamanha que parece que foi jogado uma bomba de grande poder de destruição...
E o inesperado para nós altinenses aconteceu. Durante os dias 16, 17 e 18 do mês de junho de 2010 choveu demasiadamente em grande parte da Região Nordeste. As intensas precipitações pluviométricas ocorridas durante os dias 17 e 18 do mês de junho em todo território do nosso município, com uma marca histórica de 187 mm, chovendo aproximadamente 20 horas. Isto sem falar de outras cidades tais como, Capoeiras, São Bento do Uma e Cachoeirinha, onde choveu, praticamente na mesma intensidade, e, estas cidades são banhadas pelo Rio Uma, inclusive a nossa que cresceu também pro lado do rio.
O Rio Uma que é considerado um dos mais importantes do Estado de Pernambuco, tem sua nascente na Serra da Boa Vista no município de Capoeiras – PE, a cerca de 900 metros de altitude e chega a foz, nas vilas de Várzea do Uma e Abreu do Una, no município de São José da Coroa Grande, depois de percorrer 255 Km. Seus principais afluentes são o Rio Bom Retiro, riacho Riachão, Riacho Maracujá, Rio da Prata, Rio Camevô e Rio Preto, na margem esquerda, enquanto que na margem direita estão os Riacho dos Quatis, Rio da Chata, Rio Piranji, Rio Jacuipe e Rio Carimã. Ainda sobre o Rio Uma assim escreveu Nelson Barbalho, “Atualmente se diz que nasce no Sítio Barrocas, a 800 m de altitude, tem aproximadamente 300 Km de curso, recebe inúmeros afluentes por ambas as margens, porém é um rio que corta, isto é, um rio sem perenidade na época do verão. Corre pelos territórios de Caetés, Capoeiras, São Bento do Uma, Cachoeirinha, Altinho, Barra de Guabiraba, Bonito, Palmares etc.” (BARBALHO, p. 78).

Pois bem, devido as precipitações pluviométricas registradas na quarta feira do dia 17 de junho, no dia seguinte, sexta-feira, dia 18, portanto, quando tudo parecia tranquilo em nossa cidade, quando apenas a população aguardava apenas a chegada de mais uma daquelas enchentes que poucas ou nenhum dano causa, o inesperado aconteceu.
Por volta das seis horas da manhã o Rio Uma começava a receber as águas dos riachos do nosso município e as águas que escoavam de todos os cantos da cidade, porém, o que não se esperava era que a zona brejeira mandasse “pro lado de cá”, tanta água através dos Riachos Cabeleira, Enxu, e do Riacho Taquara. O volume de água foi tamanho que, ao desaguar no famoso “Açude do Governo”, onde as águas fazem uma curva para desaguar no Pontilhão, este por sua vez não suportou a pressão das águas e uma enorme cachoeira veio desaguar no Rio Uma, por t5ás da Piscina Tropical. As cabeceiras da ponte do Pontilhão não suportaram a pressão das águas e acabaram se rompendo, o que de cero modo veio a evitar uma tragédia maior na zona urbana. Por volta das sete ou sete e meia da manhã, as águas das cidades de Capoeiras, São Bento do Uma e Cachoeirinha e também dos riachos do nosso município começavam a se encontrarem e a desaguarem no Rio Uma e a parte de baixo de nossa cidade, onde ficam as últimas ruas, começaram a ser atingidas pelas águas.
Aí, foi “um dia de juízo”, um corre-corre, as águas tomaram quase todo Mutirão e Vila Nova, atingiram a equina da Avenida João Cassiano, provocou destruição, deixou
desabrigados, animais e objetos foram levados pela força da correnteza... E, por conta disso, mita coisa foi destruída, muita coisa foi transformada e o Rio Uma mão tem mais aquela aparência de quando éramos meninos, quando muitos tomavam banho na “Caibeira”, as mulheres que iam lavar roupas nos lavadores públicos construídos pelo então prefeito Júlio Rodrigues Filho, da "Estivinha”, onde a população carente ia buscar água que vinha do Riacho Taquara... Sumirão os banheiros públicos onde muitos iam tomar um belo banho...
O hoje o Rio Uma encontra-se em situação muito pior.

Autor: Antonio Airton de Barros – Professor Especialista no Ensino de História.
Escrito em, 08 .07.2010
Publicado no Jornal Myster em, 17. 07. 2010.
Editado em, 20.12. 2019.
BARBALHO de Siqueira, Nelson. Altinho – de Antes da Fazenda até a freguesia de Nossa Senhora do Ó – subsídios para a sua história. Recife – FIAM-CEHM/Prefeitura Municipal do Altinho, 1988.


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postado por Altinhoshow

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