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ALTINHO URBANO: O Externato Santa Terezinha, escrito por Antonio Airton



No ano de 1930 foi criado o Ministério da Educação e Saúde e o seu primeiro Ministro, Francisco Campos, criou o Conselho Nacional de Educação e reforma o ensino secundário; cria o Ensino Comercial e estabelece o Estatuto das Universidades Brasileiras.
A Constituição de 1934 havia estabeleceu a elaboração de um Plano Nacional de Educação, instituiu a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário e declarou o ensino religioso facultativo.
A Constituição de 1937 introduz o ensino profissionalizante e a obrigatoriedade de as de as indústrias e sindicatos criarem escolas de aprendizagem.
Na década de 1940, e, mais precisamente no ano de 1942, foram surgindo novas leis de reforma do Ensino, incentivadas pelo então Ministro Gustavo Capanema, reformas estas, que ficaram conhecidas por “Reforma Capanema.”
Com as reformas de Capanema, o Ensino Secundário foi dividido em dois ciclos, o ginasial e o segundo ciclo (“colegial”). O segundo ciclo contava com duas modalidades: Curso Clássico e Científico, que tinham caráter propedêutico, isto é, permitiam o acesso ao ensino superior.
Em 1943, surgiram a Lei Orgânica do Ensino Industrial e a Lei Orgânica do Ensino Secundário, além de ter sido fundado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), também foi aprovada a Lei Orgânica do Ensino Comercial e, em 1946, saiu a Lei Orgânica do Ensino Primário e do Ensino Normal além da Lei Orgânica do Ensino Agrícola.
A Constituição de 1946 declarou que a educação “é um direito de todos.” Tal princípio não era mencionado na Constituição de 1937; já em 1961, depois de um longo percurso de 13 anos no Congresso Nacional, a primeira lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional foi lançada.
Em 1948, o Ministro Clemente Mariani, encaminha o primeiro projeto de lei que fazia algumas concessões às classes trabalhadoras propondo a extensão da rede escolar gratuita até o secundário, mas o projeto foi engavetado.
Em 1957, outro projeto de lei, chamado de “substitutivo Lacerda,” ao contrário, propunha que a sociedade civil assumisse o controle da educação, pregando, portanto, a privatização do ensino. A educação seria financiada pelo Estado, mas este não poderia fiscalizá-la.
Em tese, a conclusão de um curso técnico dava acesso ao ensino superior, contudo, como terminais, sendo destinados aos pobres, caracterizando uma dualidade no sistema educacional entre escolas de ricos e escolas de pobres.
Em resumo, era assim que se configurava a educação no nosso país, na época, ou seja, nos anos de 1930 até meados dos anos de 1950. Principalmente nessa época, ainda havia escassos recursos culturais, o material didático disponibilizado era reduzido e muito pobre, as cartilhas apresentavam frases absurdamente soltas e descontextualizada.
Apesar de a LDB garantir o direito e o dever da educação fundamental para todos, a escola continuava privilégio de classe. A origem socioeconômica do estudante continuava determinante para o rendimento escolar.
Na década de 1950, havia surgido o “Método Paulo Freire" com o objetivo e adequar o processo educativo às características do meio no qual está inserido. E, em 1964, surgiram nos currículos escolares as disciplinas: “Educação Moral e Cívica”, Organização Social e Política do Brasil”, isto nas escolas de 1º e 2º Gruas e nos Cursos Superiores, surge a disciplina “Estudo dos Problemas Brasileiros”, Filosofia e Sociologia.
Observando todos esses aspectos da educação brasileira, principalmente durante as décadas de 1930 a 1964, percebe-se o quanto era difícil o acesso dos menos favorecidos a educação, bem como difícil era também a disponibilidade de escolas bem aparelhadas, inclusive para o ensino primário como era denominado na época.
E, foi justamente na década de 1930, ou mais precisamente no dia 20 de maio do ano de 1932, que foi fundado em nossa cidade pelo então Pe. Bernardino de Carvalho o EXTERNATO SANTA TEREZINHA que também coordenava mais seis escolas espalhadas nos povoados e em propriedades rurais.
Segundo escritos do Dr. Moacir Omena: “O Externato Santa Terezinha localizado atualmente à Praça da Bandeira, 192, teve como origem a Escola noturna Santa Inês, fundada aos 20 de maio de 1932, pelo Vigário Pe. Bernardino Adrião de Carvalho, data onomástica do seu fundador. Ao 1º de janeiro de 1937 a antiga Santa Inês, foi consideravelmente aumentada em alunos e em melhoramentos didáticos. Tendo uma subvenção municipal de 100$000 mensais. O seu corpo docente se compõe de sete professores (um titulado) além de um secretário. Graças ao cuidado e as iniciativas particulares do Externato o primeiro a fundar o orfeon, a criar a sua biblioteca, a uniformizar sistematicamente os seus alunos, a se interessar pelo escotismo, tendo mesmo fundado a tropa Padre Manoel da Nóbrega, executando exercícios físicos e desenvolvendo a habilidade manual para os meninos. O Externato está, atualmente, organizando uma marcenaria, para os alunos que mostram aptidões para tal. Até dezembro de 941, o Externato está a desprender de cerca e 27 contos, 340 mil réis, para o estabelecimento de ensino altinense.
O Externato é inteiramente gratuito e ainda fornece livros e uniformes aos alunos mais pobres. Durante 18 meses teve o seu órgão oficial, denominado “O Censor” que circulava todos os meses. Atualmente, publica uma vez por ano, no dia de Santa Terezinha um jornalzinho “O Externato”, organizado com colaboração dos alunos.
Desde o começo desse ano, organizou o batalhão feminino como preparação para o Bandeirantismo, o qual propaganda Bandeirante e Escoteiro. Esse batalhão se denomina Companhia Santa Joana D’arc.”
Omena, relata ainda que: “A Cooperativa Escolar Externato Santa Terezinha, fundada também pelo Pe. Bernardino de Carvalho, Diretor do Externato Santa Terezinha, em 1º de janeiro de 1940. A Cooperativa facilita a aquisição de livros e outros materiais de ensino aos estudantes da cidade. Conta com um número total de 66 associados.”
O externato Santa Terezinha enfrentava também certas dificuldades, inclusive no que se refere ao currículo e a disponibilidade de material didático. Note o que dizia a EXPLICAÇÃO PRÉVIA contida no programa PONTOS PARA O QUARTO ANO PRIMÁRIO (Edição Reservada), elaborada pelo então Diretor do Externato Pe. Bernardino: “Não temos ainda compêndios escolares que tratem, em um só volume de todas as matérias dos programas oficiais de educação primária, dispostas em pontos (...). Acrescenta ainda que “os pontos são copiados pelos próprios alunos e, ou por inadvertência, ou por ignorância, fazem cópias cheias de
lacunas, que prejudicam até certos princípios fundamentais da matéria em questão (...). O modesto trabalho que oferecemos aos nossos queridos alunos é ainda incompleto e imperfeito, mas é desejo dos professores do Externato reunir em um só volume todas as matérias, desde o ano preliminar até o quarto ano, e dentro dos moldes dos programas oficiais (...). Como preito de homenagem dedicamos esse humílimo trabalho aos pais dos nossos queridos alunos e aos prezados sócios da nossa Cooperativa Escolar. Altinho, 19 de março de 1941. Pe. Bernardino Carvalho, diretor do Externato Santa Terezinha. Como se pode perceber, o Externato desempenhou um papel extremamente importante para a educação altinense, que, apesar das dificuldades, ainda regia as escolas da zona rural que eram chamadas de “Escolas Filiais”.
Segundo relato oral da professora Maria do Socorro Rodrigues Duarte, que lembra e fala com bastante felicidade de alguns de seus colegas de turma do Externato dentre eles: Marcos e Daniel Benevides, Socorro Bem Ben, Geraldo de Cícero Pedro, Waldete Cassiano, Lourdinha Carvalho, Nize de Dona Judite, Regina, Lourival e Carolina, e, mais tarde, Péricles de João de Melo. Socorro contou-me ainda que o Externato além de outras atividades também era responsável pelo Movimento Escolar Pro Santa Infância. De fato, observando o relatório elaborado no ano de 1947, que foi redigido do seguinte modo: “lamentando, embora a indiferença de algumas escolas, o Pároco de Altinho invoca as melhores bênçãos do céu para as dedicadíssimas professoras que trabalharam pela Santa Infância, em 1947.”, E, segue com uma relação das escolas: Grupo Escolar (Estaduais): Josefa Alves Bezerra, Maria Bezerra de Melo, Nair de Souza, Terezinha do Rego, Rute Vieira Maciel, Eloisa Bezerra de Menezes. ARRECADAÇÃO: 5,00; Municipais: Adalice Diniz, Luiza Rodrigues, Elisa Almeida Colto, Luiza Lemos (Nina), Maria José de Barros. ARRECADAÇÃO: 10,00; Escolas Municipais nos Povoados e Vilas: Escolas de Poços Pretos, Escola de Taquara, Escola de Santo Antonio, Escola de Cabeleira, Escola de Ituguassú, Escola de Ibirajuba, Escola de Picirongara, Escola de São Francisco. Essas nada fizeram; Externato Santa Terezinha, na cidade nas Vilas e Povoados: Classe de Zezita Paixão, CR$ 279,00; Classe de Rosarinho Vasconcelos, 400,00; classe de Maria do Patrocínio, 270,00; Classe de Maria Tereza de Jesus, 87,40; Classe de Terezinha Pires, 50,00; classe de Zulmira M das Dores, 700,00; classe de maria das Graças, 20,00. Total= 1896,00. Deixaram de enviar relatórios 11 escolas do Externato. Mesmo assim, o Externato Santa Terezinha continua a deter o título de Campeão Missionário em 1948. Parabéns! A Escola Filial nº 2 do Externato Santa Terezinha, localizada em CANTINHO e regida pela professora Zulmira Maria das Dores mereceu o troféu da vitória e receberá solenemente a Bandeira Pontifícia no dia 21 de dezembro. Parabéns à sua dedicada professora e ao aluno Manuel Lopes, presidente da Santa Infância na escola e General Missionário no ano de 1948. Manuel Lopes será condecorado General Missionário no dia 21 de dezembro, com uma medalha de ouro.”
Me explicou Socorro Duarte que o Movimento Escolar Pro Santa infância era um movimento da Paróquia, o que seria hoje em dia a Infância Missionária.
Da congregação dos professores do Externato: Pe. Bernardino Carvalho: Diretor; Neusa Assunção de Oliveira: Presidente; João Batista de Carvalho: Secretário; Anália Rocha, Neusa Gomes de Oliveira, Maria Patrocínio de Barros Correia, Dolores Carvalho, Natalice Arruda, Leoniza Ferreira, Joana Bezerra da Silva.
Para finalizar este artigo quero explicitar que duas coisas me chamaram muito a atenção e com orgulho de ser filho de Altinho: a importância do Externato para a formação cidadã, dos jovens alunos de Altinho, naquela época, e a presteza, competência e o comprometimento do Padre com as causas sociais e para o engrandecimento de nossa terra.
Monsenhor Bernardino Adrião de Carvalho, que nasceu em 01.03.1905, em Camaragibe, então município de São Lourenço da Mata. Filho de Heleno Quintino de Carvalho e de Maria das Dores de Carvalho.
Realizou seus estudos no seminário de Olinda onde iniciou os estudos de humanidade, filosofia, e teologia, sendo ordenado sacerdote aos 22 anos em 21 de dezembro de 1927; exerceu se apostolado sacerdotal nas paróquias de Vitória de Santo Antão, São Joaquim do Monte, Altinho, Nossa Senhora das Dores e Capela de \nossa Senhora da Conceição de Caruaru.
Uma importante etapa do seu pastoreio desenvolveu na cidade de Altinho, onde permaneceu por 21 anos, de janeiro de 1931 a fevereiro de 1952. Ele dotou a nossa cidade de um sistema de som destinado a fins culturais, cívicos e de evangelização, educação e recreação com motor próprio; fundou o grupo de Esperanto Odilon de Araújo e lecionou História e Gramática da língua Esperanto; instalou o cinema paroquial; fundou a Primeira Associação Rural do Município; fundou o Externato Santa Terezinha; deu atenção especial a Banda Santa Cecília; instalou o primeiro núcleo do Movimento Bandeirante do Nordeste, com a tropa de escoteiros Padre Manoel da Nóbrega, do qual foi o seu primeiro chefe-instrutor; em 1953 fundou a Escola Normal Regional de Altinho, alargando até a formação de professoras.
Ao ser transferido para a cidade de Caruaru, realizou também importantes obras, dentre elas: fundou o externato Nossa Senhora das Dores e mais tarde o Colégio Santa Inês; na Diocese de Caruaru exerceu relevantes funções, inclusive foi diretor Espiritual do Seminário Diocesano; Governador do Bispado de ;caruaru, sendo eleito depois, Vigário capitular da Diocese de Caruaru, sendo também, Vigário Geral; em 10.06.1952, foi nomeado Capelão de Honra do Santo Padre João XXII e em 14.11.1963 foi elevado a Prelado de Honra pelo Santo Papa Paulo VI. Por essas honrarias, passou a ser chamado pelo título de Monsenhor.
O Monsenhor Bernardino Adrião de Carvalho, faleceu em Caruaru no dia 2de dezembro de 1993. Um nome que jamais deverá ser esquecido, em particular por nós altinenses.


Autor do Artigo: Antonio Airton de Barros – Professor Especialista no Ensino de História.
Em, 09.04.2019
Pesquisa: https//pt.wikipedia.oorg.wiki/Historia_da_educação_no_Brasil
OLIVEIRA, Moacir Omena de. ENSAIO HISTÓRICO DE ALTINHO – 1770 -1970 -PERNAMBUCO – BICENTENÁRIO DO SEU POVOAMENTO.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – ESCOLA DE AGRONOMIA – CRUZ DAS ALMAS – BAHIA; dezembro de 1970.
EDIÇÕES DO EXTERNATO SANTA TEREZINHA - PONTOS PARA O QUARTO ANO PRIMÁRIO - EXTERNATO SANTA TEREZINHA – EDIÇÃO RESERVADA – ALTINHO -PE, 1941.
-Compilados e organizados pelo Corpo Docente do Externato Santa Terezinha.
GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da Educação: um estudo introdutório – 15 ed. São Paulo: Cortez, 2006.
*Relato oral da Professora Maria do Socorro Rodrigues Duarte.
*Fragmentos do texto de Genival Vicente gentilmente cedidos pelo Jornal Myster.
Foto: Fonte: Memorial Altinense Apolônio Sales


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postado por Altinhoshow

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