Bastaram 48 segundos.
A combinação mortal 30 jabs e cruzados. Preferencialmente dados com a direita, por cima da infantil mão esquerda baixa. Os golpes entraram violentos, secos, desequilibravam, desnorteavam. Principalmente, envergonhavam. E como fez com Holly Holm, Ronda Rousey caminhou para a guilhotina. Seu ego não permitia nem pensar no clinche. O que seria um recurso normal, de proteção, para ela seria embaraçoso.
Seu plano de repetir o que havia feito com Bethe Correia foi um fracasso. Ronda queria não só vencer Amanda Nunes. Queria, como em um filme de Hollywood, vencê-la como uma heroína. Na sua especialidade, no boxe afiadíssimo que a baiana nasceu com o dom e aprimorou nos Estados Unidos. A belíssima princesa americana bateria, humilharia a vilã brasileira que ousava ostentar o cinturão dos galos.
Só que a vida não é um filme, Ronda.
E você não entendeu.
Os socos da talentosíssima Amanda não eram fakes, como os que recebeu nos Mercenários 3, com Sylvester Stallone. Ou nos Velozes e Furiosos 7, com Vin Diesel. Para espanto dos mais de 20 mil fãs que pagaram cerca de 4 milhões de dólares, R$ 13,2 milhões para lotar a arena em Las Vegas. E os cerca de 250 milhões de telespectadores, espalhados em 78 países. A princesa foi massacrada pela leoa brasileira.
A realidade atropelou o script.
O mundo repercute o fato dela, apesar de ter tomado uma surra, digna de uma juvenil, embolsou três milhões de dólares, cerca de R$ 9,7 milhões. Amanda, ganharia apenas 200 mil dólares, R$ 651 mil, mesmo ganhando a luta. Ganhou mais um bônus de 50 mil dólares, R$ 162 mil, pela performance da noite.
Antes que qualquer nacionalista extremado se revolte, é bom pensar duas vezes.
Ronda tinha de ganhar muito mais mesmo.
O MMA feminino só chegou ao bilionário octógono graças a ela. Em 2011, Dana White, o presidente e homem que faz o que quiser no esporte, resumiu em uma palavra quando as mulheres se enfrentariam no UF
"Nunca."
Mas mercenário até não mais poder, ele foi alertado da grande bobagem que falou.
Foi alertado que no Strikeforce, evento que o UFC comprou e transformou em peneira, havia um fenômeno. Uma mulher lindíssima, a primeira norte-americana a ganhar uma medalha olímpica no judô, que estava arrasando com suas adversárias. Conquistado uma legião de fãs, apaixonados. Não só pela sua beleza, mas por sua técnica, poder de finalização. Usando a grande arma, a chave de braço.
Dana foi observá-la. E como não rasga dinheiro, esqueceu sua palavra empenhada. "Vou morder a minha língua o resto da vida por ter dito que nunca as mulheres lutariam. Ronda me fez ver um mundo diferente."
E graças à loira, a noite do dia 23 de fevereiro de 2013, transformou o UFC. Foi a primeira vez que mulheres se enfrentavam. Foi uma luta empolgante. Ronda escapou da tentativa de finalização de Liz Carmouche, que conseguiu 'mochilar' suas costas. Ronda suportou o sufocamento, a derrubou e aplicou uma maravilhosa chave de braço e conseguiu a primeira vitória de uma mulher no maior evento de MMA do planeta.
Era bom demais para ser verdade. Campeã, talentosa, linda e focada em manter por anos o cinturão. O oportunista Dana ampliava o leque de fãs. As mulheres. E os apaixonados por sua beleza. Isso significava muito mais dinheiro. E fotos sensuais e capas e mais capas de revistas criavam o mito.
Chegou a hora das câmeras e dos jornalistas se focarem em Ronda. E ela contou sua história de vida. Sofrida. Seu pai havia se suicidado quando ela tinha oito anos. Ele sofria dores crônicos nas costas graças a uma operação mal sucedida na coluna. Pinos provocaram uma reação degenerativa. Ron Rousey preferiu se matar a que seus filhos o vissem inválido.
Ronda jurou que ganharia uma medalha de ouro olímpica em homenagem ao pai. Conseguiu 'apenas' a medalha de bronze, em Pequim. Obsessiva, chegou até a largar os estudos para treinar. Entrou em paranoia ao não conseguir o ouro. Passou a beber, fumar maconha e se tornou dependente do analgésico Vicodin. Trabalhava como garçonete. Sentindo-se abandonada pela Federação de Judô Norte-Americana, não quis saber da Olimpíada de Londres. Resolveu lutar MMA.
Bastaram três anos e sua ascensão foi fenomenal. Usava o judô como base e foi se aprimorando na trocação, no jiu jitsu. Foram 15 vitórias, contando as três lutas que fez como amadora. Ronda se deixou levar pelo assédio. Demais para quem trabalhava como garçonete e passava as noites fumando maconha e usando Vicodin para relaxar e dormir, quatro anos atrás.
Só os seus patrocinadores pessoais, Reebok, MetroPCS, Bud Light, Buffalo Jeans e Fanatics, engordaram sua fortuna em 14 milhões de dólares, cerca de R$ 45 milhões. Propagandas, filmes em Hollywood e contrato com o UFC se somam para atingir mais 15 milhões de dólares, mais R$ 48 milhões. Ou seja, Ronda tem, pelo menos, R$ 95 milhões.
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