quarta-feira, 18 de julho de 2018

ARTIGO: ALTINHO URBANO, A PRÁTICA DOS BILROS


     Segundo Manoel Maria de Souza Colvet de Magalhães – escritor – o bilro teria chegado ao Brasil através dos portugueses sendo durante um longo período, a ocupação das freiras nos conventos.
     Os portugueses, ao introduzirem a técnica dos bilros no Brasil foi rapidamente assimilada pelas nativas que conheciam e praticavam a arte milenar do trançado.
     Por isso, fazer renda com bilros é uma prática muito antiga e ainda não há consenso sobre sua verdadeira origem. Contudo, o certo é que a renda de bilro se espalhou por todo o Brasil, contudo, algumas regiões mais se destacaram nesse tipo de atividade que acima de tudo transmite vivacidade e alegria E como se constitui o bilro? É uma almofada – pelo menos na nossa região – coberta com um pano, geralmente chita estampada, varetas de madeira torneada contendo uma bolinha de madeira ou de alguma semente no final da vareta, e que possui tamanho variado, onde vai ficar os fios e os moldes feitos em papelão grosso, preso em alfinetes, na maioria das vezes de espinhos de mandacaru. 
     Geralmente os fios são manejados por meio dos bilros, onde são enrolados sobre uma das extremidades, a linha para fazer a renda que por sinal tornou-se muito popular no Nordeste brasileiro, sendo usada para enfeitar roupas de mulheres e crianças.
     Em nossa cidade a arte de fazer renda com o uso do bilro, apesar de não ter sido tão comum, mesmo assim muitas mulheres – no passado – por volta dos anos de 1940 a 1970, produziram muitas peças, não para comercializarem, mas para o uso familiar, usavam as peças que faziam para enfeitar mesas, bancos, e outros tipos de móveis, inclusive oratórios.
     Obtive informações de pessoas que Dona Zefinha era uma rezadeira que morava à Rua Manoel Licó e que fazia renda e bicos com os bilros e que por sinal levava uma vida extremamente solitária. Era “uma negra velha”, que cheguei a conhecer quando ainda era menino, e, com ela havia um fato curioso: gostava muito de beber pinga: na época existia também um fortificante famoso chamado Biotônico Fontora, e a velha tinha um vidro vazio desse remédio no qual ela colocava aguardente que havia comprado na bodega de Seu Loló. Quando ela se embriagava ficava uma fera; Júlia Olegário, Dona Dida, Carmélia Diniz Moura, Dona Maria do Sítio Taquara, Dona Bela, também no Sítio Taquara, Dona Maria do Sítio Brejo de Serra, Dona Maria Claudino avó da professora Lindalva e que residia no Sítio jataí, divisa de Altinho com Cachoeirinha. Elas usavam os bilros para confeccionar rendas, bicos e linhas para adornarem principalmente as roupas dos adultos e das crianças.
     Infelizmente esta arte tão antiga em nossa cidade, perdeu-se ao longo do tempo, aqui acolá se ouve falar de alguém que em algum lugar ainda faz uso dos bilros, mas apenas como passa tempo. Já em outras regiões do nosso país, segundo alguns relatos e escritos em livros, a renda de bilros, os bicos são usados com fins expressamente lucrativos, principalmente nas feiras de artesanato, até porque, pelo o que entendo quem determina o fortalecimento das culturas é o setor econômico, por mais incrível que possa parecer.
     Acho que esse tipo de arte, pelo menos no sentido da cultura deveria ser retomado em nossa comunidade, se não com fins lucrativos, mas pelo menos no intento de mostrar as gerações futuras, na prática, não só a beleza, mas também a importância desta prática como ação de prevenção, inclusão e também de colaboração recíproca.

Autor: Antonio Airton de Barros -  Professor Especialista no Ensino de História.
Artigo Escrito em, 19.11.2011.


Publicado no Myster em, 19 de novembro de 2011



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