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O Épico Confronto Entre Lampião e Pedro Xavier na Fazenda Ipueiras

O Cenário do Sertão Nordestino

O sertão nordestino é um cenário repleto de histórias fascinantes, onde a bravura e a determinação dos seus habitantes se entrelaçam com a própria essência dessa terra árida e misteriosa. É nesse contexto que se desenrola o épico confronto entre Lampião, o Rei do Cangaço, e o destemido Coronel Pedro Xavier, na Fazenda Ipueiras, no município de Serrita, Pernambuco.

A Fazenda Ipueiras: Um Oásis no Sertão

A Fazenda Ipueiras era um local privilegiado, com solo fértil e abundância de água, onde se produzia cana-de-açúcar, arroz, batata e outros produtos destinados à alimentação da população. A atividade agropecuária e a pesca nos açudes eram prósperas, e o excedente era comercializado na feira semanal localizada na vila de Ipueiras, encravada na própria fazenda.

O Coronel Pedro Xavier, homem flexível, hospitaleiro e generoso, exercia também o cargo de Juiz Interino de Direito na Comarca de Leopoldina. Ele morava no imponente casarão da fazenda e tinha uma numerosa prole, com descendentes espalhados tanto na fazenda quanto na vila de Ipueiras, uma incipiente urbanização que contava com um pequeno mercado semanal, uma escola, uma agência de correios, uma farmácia, uma padaria e diversas lojas, em sua maioria pertencentes aos membros da família Xavier.

A Chegada de Lampião e Seu Bando

Na década de 1920, era comum a presença de bandos de cangaceiros perambulando pelo Nordeste. Lampião, o temido Rei do Cangaço, também passou pela Fazenda Ipueiras em 26 de maio de 1925. Naquela ocasião, o Coronel Pedro Xavier, fiel à sua hospitalidade, mandou fornecer comida, roupas e lenços tirados da loja de um de seus filhos, Gumersindo. No entanto, as filhas e noras do Coronel foram proibidas de se apresentar a Lampião e seu bando, para evitar que os cangaceiros cometessem algum atrevimento.

Após esse episódio, o Coronel Pedro Xavier, um tanto constrangido por ter dado guarida a Lampião, pois soubera de algumas "bobagens" que seu bando havia feito com outras pessoas, decidiu que, na próxima vez que Lampião passasse pela Fazenda Ipueiras, ele seria recebido a bala. O Coronel enviou um recado a Lampião, avisando-o de que não deveria voltar à fazenda, "do contrário, será recebido a bala".

O Confronto Inevitável

A resposta de Lampião não tardou: "Quando passei por Ipueiras, respeitei você e sua gente. Agora, com seu recado atrevido, a coisa vai mudar. Prepare-se, que haverá choro." O momento fatídico estava para acontecer a qualquer instante.

No dia 3 de fevereiro de 1927, alguns membros da família do Coronel Pedro Xavier estavam reunidos na casa da fazenda para almoçar, esperando os demais que se encontravam na vila de Ipueiras. Naquele momento, apenas a matriarca Josefa Xavier, esposa do Coronel, o Dezinho (um dos baluartes do combate), Aparício Xavier (que estava de férias da faculdade de Petrolina), Mário Saraiva Xavier (o filho mais novo) e alguns amigos da família, como Napoleão Pereira e sua esposa Naninha, Manoel Preto (afilhado de Dona Josefa) e Pedro Dama (cego de um olho), estavam na casa sede da fazenda.

Repentinamente, ouviu-se um tiro. Dezinho Xavier, acreditando ser uma tropa do governo, indagou: "Quem vem aí? É da polícia?" A resposta foi um tiro disparado pelo cangaceiro Tempeiro, que vinha à frente do grupo de Lampião. Por um triz, o tiro não atingiu Dezinho, que prontamente respondeu, acertando o bandoleiro na altura de uma das orelhas, matando-o.

A Batalha Épica

Diante da morte de um de seus integrantes, Lampião e seus cangaceiros iniciaram um grande tiroteio, com mais rancor. Uma verdadeira batalha estava sendo travada entre os Xavier e os cabras de Lampião. Os tiros quebravam jarras d'água, derrubavam o paiol e o giral de queijo.

Dezinho Xavier, Manoel Preto e Pedro Dama seguraram o fogo de frente, evitando que Lampião chegasse ao terreiro da casa, enquanto esperavam pelo reforço que vinha da vila de Ipueiras. Napoleão Pereira, em alto e bom som, desafiava Lampião, dizendo: "Cabra safado, um bandido como tu, eu te dou de peia no umbigo. Você está falando com Napoleão Pereira, do Jardim do Ceará!"

Apesar da resistência dos Xavier, os recursos começavam a se esgotar a cada minuto. O Coronel Pedro Xavier, temendo que a munição se acabasse e Lampião ganhasse terreno em direção à casa da fazenda, mandou seus serviçais selarem cavalos e avisar os parentes e amigos.

A Intervenção Divina e a Retirada de Lampião

Segundo o depoimento de um dos reféns de Lampião, o Senhor Vicente Vitorino, no momento do tiroteio, o rosário de Lampião havia se quebrado. Como os cangaceiros eram muito supersticiosos, o Rei do Cangaço manifestou-se receoso, pois considerava aquilo um mau sinal. Além disso, a bala certeira do Coronel Xavier havia matado o cangaceiro Tempeiro, deixando Lampião "cabreiro" com o episódio.

Naquele dia, Lampião estava "endiabrado" também porque a esposa do refém Pedro Vieira Cavalcante não pagou o resgate exigido pelo facínora. Além disso, Lampião matou um jovem rapaz chamado Lino, que cavalgava um jumento próximo ao local do combate.

Diante da situação, Lampião decidiu dar o "fora". O refém Vicente Vitorino, com sabedoria, conduziu os cangaceiros por um percurso estranho aos normalmente utilizados pelo Coronel Xavier, e lá longe, na Macambira, Lampião soltou o velho camponês, que voltou à casa do Coronel para narrar todo o acontecido.

O Desfecho e a Homenagem

Após o confronto, chegaram à Fazenda Ipueiras o Coronel Chico Romão, de Serrita, com 50 homens, armas e munições, Aparício e Alfredo Romão, com 30 homens, e Luís Pereira, de Jardim, no Ceará, genro do Coronel Pedro Xavier, com mais 30 homens.

Em homenagem ao episódio, as filhas do Coronel Pedro Xavier ergueram uma capela na fazenda, cujo patrono é São José. Essa história marcou profundamente o imaginário popular nordestino, evidenciando a bravura e a determinação dos habitantes do sertão em defesa de sua terra e de seus valores.

fonte nordeste fantastico

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postado por Altinhoshow

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