A comunidade quilombola Cabileira/Guaraciaba, em Pernambuco, acaba de inscrever seu nome em uma conquista histórica: seis de seus membros foram aprovados no curso de Licenciatura em Educação Escolar Quilombola Nêgo Bispo, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mais do que uma aprovação acadêmica, essa entrada representa a força de um povo que transforma resistência em caminho, e memória em futuro.
Embora a comunidade já tenha visto outros de seus filhos e filhas ingressarem na UFPE, é a primeira vez que estudantes de Cabileira ocupam vagas no curso voltado exclusivamente à formação de educadores(as) quilombolas. E o que torna essa conquista ainda mais potente: um dos professores do curso também é da própria comunidade Cabileira/Guaraciaba. O saber tradicional, portanto, não apenas entra na universidade — ele também ensina dentro dela.
Os estudantes aprovados são: Welys, Weslâiny, Edjane, Bruna, Fernanda e Daniela. Seus nomes representam não apenas conquistas individuais, mas o esforço coletivo de toda uma comunidade que segue lutando por acesso, justiça e valorização dos saberes ancestrais.
O curso leva o nome de Nêgo Bispo, pensador quilombola, poeta da oralidade e referência nacional na luta por uma educação que respeite os territórios, os corpos e os saberes ancestrais. Seu nome não é apenas homenagem — é direção. É a afirmação de que a educação quilombola não se curva à lógica colonial, mas se ergue como prática de liberdade.
Essa conquista é atravessada pela força do movimento quilombola, que há décadas reivindica uma educação que dialogue com os territórios e respeite as identidades negras. É também fruto do compromisso da UFPE em construir uma universidade pública que se abre às vozes historicamente silenciadas. A Licenciatura Nêgo Bispo é resultado direto das políticas de ações afirmativas, que reconhecem as desigualdades estruturais e criam caminhos para que comunidades como Cabileira/Guaraciaba ocupem espaços de produção de conhecimento.
Esses seis estudantes chegam à UFPE com os pés firmes na terra, com os saberes de seus ancestrais pulsando, e com a missão de transformar a educação em ferramenta de libertação. Com um educador da própria comunidade entre os docentes, o curso se torna ainda mais enraizado, legítimo e transformador.
A presença quilombola na UFPE não é exceção — é resistência. É a universidade se tornando território de todos. É o legado de Nêgo Bispo ecoando nas salas de aula, nas comunidades e nos sonhos que agora ganham voz.
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