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ALTINHO URBANO: O precursor dos “assustados” de Altinho (In Memoriam)




Durante os anos de 1930 e 1940, mesmo diante do forte controle do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) a vida cultural dos brasileiros foi intensa.
O rádio com programas de auditórios, novelas, era um dos maiores divertimentos e um dos mais preferidos da população, inclusive das cidades do interior. Divulgava-se a música popular brasileira, os artistas tornaram-se conhecidos através das ondas do rádio. O Repórter Esso e o programa oficial A Hora do Brasil transmitia notícias do Brasil e do Mundo.
Em 1950, foi inaugurada a primeira emissora de televisão da América Latina, a TV Tupi, com sede na cidade de São Paulo. Foi também nessa década que surgiu a Juventude Dourada em ritmo de Rock “n” roll, os jovens adoravam, mas a nova música não agradava aos adultos nem as autoridades.
Os “brotinhos” dos anos dourados – 1950 – ou a chamada “geração Coca-Cola”, colocava nas vitrolas pés-de-palitos os LPs com o noivo ritmo vindo dos Estados Unidos, dançavam e se vestiam como os granes astros do cinema norte-americano. Os rapazes rebeldes, como ficaram conhecidos, andavam de motocicletas- lembro que George Fotografias chegou em Altinho com uma bela lambreta – vestiam jaquetas de couro e alça jeans e usavam óculos escuros... Essas mudanças também chegaram a interferir no modo de vida das pacatas cidades do interior, inclusive a nossa.
De 1956 a 1961, vivia-se o período do governo de JK, com o slogan “Cinquenta anos em Cinco”. Circulavam pelas ruas do Brasil os primeiros carros aqui produzidos tais como: Vemaguet, a Rural Willys, o JK, o DKW, o Fusca o Sinca - Bosco Omena, conhecido por Bosco do Ouro, que era pai de Licélia, um na época – e o Aero Willys.
Ainda na década de 1950 a 1970, vivíamos o movimento do Cinema Novo, onde os filmes buscavam retratavar os problemas brasileiros. Com uma linguagem própria.
A Bossa Nova surgiu no ano de 1958 e perdurou, principalmente até os anos de 1970 e inicio dos anos de 1980. Já em 1962, um grupo de rapazes de Liverpool, uma pequena cidade da Inglaterra, revolucionava o mundo e o comportamento das pessoas, eram eles: John Lennon, Paul MacCartiney, Ringo Starr e George Harrison, com o nome Beatles, uma junção de beat (batida) com beetle (besouro).
O mundo vivia também nesse período o tempo do pacifismo dos Tlower Power, dos hippes, das músicas de protesto e do ideal de paz e amor; todas essas novas ideias também acabavam por influenciar de uma maneira ou de outra, os rapazes das cidades do interior, até a nossa cidade.
De 1962 a 1985, sob o lema “Brasil, ame-o ou deixe-o”, os brasileiros viveram terríveis momentos da ditadura Militar. O “Milagre Econômico” era a palavra de ordem daquela época para impulsionar o progresso do país.
Em 1965 estreou na TV Record um programa chamado Jovem Guarda, que logo se transformou em sucesso absoluto. Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléia, Erasmo Carlos
lideravam esse cenário do famoso iê-iê-iê. As músicas de protestos, os festivais de música popular... O tropicalismo ou simplesmente “Tropicália”, também surgiu nesse contexto.
Outros artistas que também participaram do movimento da Jovem Guarda: Martinha, Waldirene, Prini, Lopis, Leno e Lilian, Renato e Seus Blue Caps, Os Vips, Eduardo Araújo, Silvinha, Demetrius, dentre outros. Todos eles contagiados pelos ideais dos artistas norte-americanos, e, os brasileiros e os jovens altinenses também comungavam de certa maneira dessas mudanças. Nesse período as roupas usadas eram bem coloridas, calças boca de sino, mine saia, cabelos compridos, anéis extravagantes e cordões no pescoço.
É nesse contexto histórico que, em Altinho, um jovem rapaz por nome de Severino Tibúrcio da Silva, assim como tantos outros jovens altinenses, de família humilde, mas que gostava das novidades culturais da época principalmente no âmbito da música e da dança. Ele por muitos anos fez das noites de sábado e de domingo finais de semana divertidos ao promover o encontro de amigos dançarinos em sua residência.
Em nossa terrinha já existiam na década de 1960 os Clubes do Altinense e do Ipiranga, contudo demorava muito para que essas agremiações promovessem os bailes. E, Severino Tibúrcio da Silva, ou “Raminho de Brosa”, como era conhecido por todos nós, ele que nasceu no dia 7 de março do ano de 1947, altinense, filho de José Tibúrcio da Silva que exercia profissão de pedreiro, e de Ambrosina Maria da Silva, que negociava na praça da idade com uma barraca de comidas. Raminho tinha os irmãos: Severino Sebastião, Murilo, Luiz, Fátima e Nanci.
Raminho de Brosa casou-se com Ivonete Araújo da Silva, filha de Ângelo Ferreira de Araújo e de Josefa Maria da Conceição; Professora e, foi também Supervisora de Ensino em nosso município, e tem como os filhos: Cheyla, Ronaldo e Renato. Trabalhou como pedreiro, mas também era funcionário público municipal; residia à Rua Coronel João Guilherme de Pontes. Quando rapaz, Raminho gostava de se vestir elegantemente, influenciado pelos acontecimentos da época e também gostava muito de dançar, talvez por isso, nos anos de 1970, teve a ideia de promover os famosos e inesquecíveis “assustados” na residência de sua mãe.
De início, os assustados começaram quase por acaso, com o tempo, os amigos foram gostando, e se acostumando com a ideia até chegar ao ponto de ter horário marcado para começar e para terminar e os frequentadores mais assíduos eram: Francisco da Celpe, Arlindo de Pedro Lins, Regis, motorista do ônibus da Viação São Marcelo, Creuza Marques - eu também cheguei a participar e dancei muito com Lucy de “Toinho Cosme” – e, também participavam alguns amigos da cidade do Recife. Isso acontecia aos sábados e também aos domingos, e era usada uma vitrola que se abria em duas partes, a tampa era a caixa de som. Ele colocava a vitrola no cantinho da sala para dar mais acústica e a gente começava a dançar as músicas da jovem guarda.
Raminho também era um assíduo frequentador das festas e dos famosos bailes no Clube do Altinense e no Clube do Ipiranga, além de ser um fanático torcedor do Clube Náutico Capibaribe do Recife e do Altinense Futebol Clube, onde chegou a participar da diretoria da então entidade. Também foi um grande carnavalesco participando dos carnavais de nossa cidade. Segunda a sua irmã Fátima, muitas vezes nos dias de carnaval ele colocava os móveis da casa de sua mãe numa garagem para deixar a casa livre e juntamente com os amigos dançavam o frevo e promoviam o banho e o mela-mela.
Nesse momento, seus convidados mais frequentes eram: Lourinaldo da cidade de Caruaru (falecido), Ademar Feitosa, Milton Chã (falecido), Pedro de Nana, Zezé de Nana (falecido), Lala (falecido), Lourdinha mãe de Alba, Creuza Marques e Dona Ivone (falecida)
Em se tratando de culinária, Raminho de Brosa chegou a ser um grande cozinheiro. Contou-me a sua sobrinha Sandra Lúcia, Sandra de Zé Pretinho, que ele cozinhava melhor do que a sua própria mãe; fazia comidas deliciosas, inclusive as comidas da barraca de feira era ele quem fazia.
No dia 6 de janeiro do ano de 1996 Raminho de Brosa sofreu um derrame que o deixou paraplégico, mesmo assim, com a ajuda de sua esposa e filhos ele procurou viver todos os momentos de sua vida intensamente. Seu maior sonho era conhecer o seu neto João Vitor, filho de Cheyla com Jonathan, ambos residentes na cidade de Caruaru, e, Deus, concedeu-lhe este presente e ele chegou a realizar seu grande desejo.
Sua sobrinha Sandra, lembra que aos domingos, ele gostava de vestir uma bermuda para ir passear e, mesmo estando doente, mesmo assim continuava com esse ritual, passeando de carro pelas ruas de Altinho e mesmo sentindo dificuldades dizia que estava muito feliz por ter ido fazer aquele passeio que era um costume do passado.
Sua esposa que sempre o cuidou com muito carinho tinha o cuidado de nunca o deixar de fora das festas que ele sempre gostou, principalmente do carnaval, ela colocava-o numa cadeira, na calçada, para que ele pudesse ver o que estava se passando.
Infelizmente no dia 26 de agosto do ano de 2010, Raminho foi acometido por um enfarto. E o percussor dos “assustados” de Altinho desencarnou, levando consigo toda alegria, entusiasmo e a sabedoria de viver sem medo de ser feliz e deixando entre nós uma grande saudade.

Autor: Antonio Airton de Barros – Professor Especialista no Ensino de História.
Publicado no Jornal Myster do dia 18.09.2010
Editado em, 10.09.2019.
Foto: Ronaldo.


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postado por Altinhoshow

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