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Antonio Airton Escreve: As Paneleiras do Sítio Mocó e Adjacências


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     A confecção de panelas de barro é uma técnica secular e que chegou até os nossos dias através das tradições familiares.
     Segundo alguns historiadores e pesquisadores os primeiros artesãos surgiram no período neolítico. Portanto, as panelas de barrosão extremamente primitivas, e, é possível datar fragmentos arqueológicos com mais de dez mil anos.
     No caso do Brasil, em épocas mais recente foram os índios nossos primeiros artesãos. Contudo, já por volta d 1880 o trabalho com o barro teria surgido entre as comunidades quilombolas, sendo esta atividade sem dúvidas uma das maiores expressões da cultura popular e que assume características próprias de acordo com cada canto do Brasil.
     No nosso município esta arte popular remonta mais de um século d existência, mesmo tendo enfraquecido ao longo do tempo. A maior concentração de paneleiras localiza-se nos sítios mocó, sítio gameleiro e no sítio espinho branco.
     Os mais antigos profissionais da arte com o barro ainda hoje comentados foram: Dona Bernardina, Josefa Leandro, Manoel Leandro, (homens também faziam as panelas), Carmina Pirangir, Maria de Luiz de Rufino, Marta de Rufino, Mãe de Dio, Luiz Leandro, Lobina, Josefa Rufina de Melo (mãe de João Cabelereiro), Maria de Zé de Quincas, todos esses já falecidos.
     Atualmente ainda trabalham na confecção de panelas: Luzia Leandro, Severina conhecida por Dina de Antonio Lula, Virgínia Pirangir, Socorro de Leobina, Docarmo, Lenice de Tonho de Dore, Dore, Severina de Ananias, Dias e Zé Sabino, sendo todos os citados acima residented ou que residiram no sítio mocó.
     No sítio espinho branco sobressaem-se: Maria de Duda e Zé de Quincas, Maria de Manoel Branco, Manoel Branco (falecido), Severina de Zé Onorato, Quitéria Onorato, Josefa (Tia Zefa), Luiz Manoel dos Santos, Duda de Zé de Quincas (falecido), Zefinha de Careolano, Alice de Zé ce Bila, Irineu Onorato, dentre outros.
     Dona Marluce Severina dos Santos também é uma famosa paneleira que reside no sítio gameleiro. Ela tem 53 anos de idade, é cada com o senhor José Lourival Silva, com quem tem sete filhos, e, segundo ela, trabalha fazendo panelas de barro desde os dezessete anos de idade, arte que aprendeu com as já falecidas, dona Anunciada e Angelina amigas de seus familiares. Ainda segundo Dona Marluce, para fazer panelas, tachos, tigelas, fogareiros, assadeiras e potes, retira o barro vermelho do sítio espinho branco e o barro preto do sítio gameleiro, das encostas dos riachos e dos barreiros. Os dois tipos de barros são misturados para só depois fazer as peças, queimar e pintar. Só os potes é que são pintados com verniz. Geralmente comercializa o que produz na feira livre de Altinho e também na de Agresitna.
     Ela conta que, antigamente ganhava um “dinheirinho que dava para viver”, quando levava para as feiras não sobrava nada. O transporte da mercadoria era feito geralmente a cavalo ou em burros – isto antigamente – se queixa porque os mais novos, ou seja, a nova geração não se interessa em aprender a arte que vem do próprio chão e que de certo modo caracteriza aquele povo.
     Um caso ou “causo” que merece ser relatado é que, segundo João Cabelereiro, até por volta dos anos de 1960, época dos remanescentes da arte com o barro e que ainda estavam vivos, é eu durante a Semana Santa (no período da Quarema) existia uma brincadeira quase que folclórica chamada de “serração”, que consistia em pegar um serrote e ficar serrando um pedaço de madeira perto da casa de um idoso que estivesse doente ou mesmo acamado, para avisar que o doente ia morrer e que seria serrado em pedaços! Isto ocorria na Quarta-feira da Quaresma.
     Conta João Cabeleireiro que nesse mesmo período (Semana Santa), havia a brincadeira com o Judas feita com um boneco feito de molambo, vestido em tamanho e formato de gente usado para representar o Judas Iscariotes que traiu Jesus. É uma brincadeira secular e que também era realizada em meio as famílias daquelas comunidades onde residiam e ainda residem algumas paneleiras.
     Pois bem, na sexta-feira da paixão, à noite, o Sr. Francisco amolava uma foice dentro de casa quando chegou um homem por volta das sete horas da noite batendo na porta e pedindo para lhe ensinar a casa da parteira “Maira Cajú”, ainda disse que era urgente! O Sr. Francisco ainda com a foice na mão abriu a porta, no escuro, nervoso, e, ao mesmo tempo caiu sobre ele uma pessoa... Concomitantemente ele golpeou com a foice por diversas vezes “aquele volume”, e, aperriado gritou para a sua esposa: “Lobina, Muié, eu matei um homem!” A mulher se levantou, acendeu um candeeiro, com os olhos arregalados e quando olhou viu o “bicho” estirado no chão de terra batida; era um Judas que o cara tinha colocado encostado na sua porta!
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Antonio Airton de Barros – Professor Especialista no Ensino de História.
Publicado no Myster em 17 de março de 2012.

     


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