Durante a década de 1950 a sociedade brasileira foi influenciada pelos hábitos de consumo norte-americanos. O famoso “american way of life” (o modo de vida americano) espalhou-se pelo mundo determinando valores e hábitos daquele país.
É também nesse período que chega ao Brasil a televisão trazida por Assis Chateaubriand, o então fundador da TV Tupi onde as propagandas mais comuns eram as do sabonete Leves e a do chapéu Ramenzon. Iniciou-se os anos dourados dos esportes, desencadeou-se o movimento musical conhecido como Bossa Nova, que teve origem no Rio de janeiro com João Gilberto que lançou o LP Chega de Saudade, os Movimentos de Vanguardas que ficaram conhecidos como “Concretismo”, surgiu o Cinema Novo Teatro de Arena, os Concursos de Misses...
Durante os anos de 1950 e 1960, para as boas famílias, tocar violão e cantar eram coisas associadas à boemia decadente da lapa, as brigas de navalha entre malandros em botequins imundos. Já para outras famílias, que não tomavam conhecimento desse ambiente, cantar e tocar violão quando se era pago para isto podia ser uma forma de escapar á pobreza. Até mesmo no auge da ditadura militar, tocar violão era considerado coisa de malandro e de preguiçoso. Dava até cadeia!
Ainda na década de 1960, viveu-se o colapso do populismo no Brasil, o medo do comunismo, Reformas de Base, outras Reformas Polêmicas, caminhos para o Golpe Militar... Na segunda metade dessa mesma década, surgiram os famosos festivais da música brasileira que tinham o propósito de lançar talentos e uma nova geração de cantores e intérpretes da MPB como Geraldo Vandré, Edú Lobo, Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Elis Regina, Jair Rodrigues e muitos outros. Surgiram ainda o Tropicalismo e a Jovem Guarda, com Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia.
É neste contexto que em nossa cidade surge, por volta dos anos de 1950, 1952, uma espécie de movimento de jovens (hoje seria um movimento cultural), que ficou conhecido como Valores de Nossa Terra, que no inicio acontecia no prédio onde residia o Dr. Edmilson De Barros Melo. O apresentador do evento era o Sr. Sebastião primo e os cantores eram: José Wamberto da Silva (Zezé de Nana), José de Jovina, Pedro Marques, conhecido por Pedro Cansado, João Bosco Wanderley (Bosco do Ouro).O movimento aconteciam nos finais das belas tardes de domingo e tinha como patrocinador o “Vinho São Luís”, cujo proprietário da fábrica era o Sr. Luís de Melo e cada candidato geralmente ganhava uma garrava de vinho.
Como passar do tempo o Valores de Nossa Terra passou a ser apresentado no Teatro Paroquial com o apresentador Azarias Alves de Oliveira. Somente a partir da década de 1960 mais precisamente é que resolveram fazer as apresentações no palco do Cine Santo Antonio de propriedade do Sr. Antonio Miguel de Andrade, onde hoje funciona a loja de Beto importados e que fica à Rua 15 de novembro. Nessa época, outro cantores e músicas também se apresentavam, dentre eles: Silva Amorim (Silva Sapateiro), Zita Amorim, Maria de Geraldo Lira, José Experidião da Silva (GE), Pedro Cavalcante de Albuquerque, que era conhecido como “O Pingo de Ouro” ou Pedrinho Bembem, Afonso Augusto de Souza Neto conhecido por Cito de Dona Iná, e que com o tempo seguiu a carreira de canto gospel chegando a gravar vários CDs tendo a voz comparada com a do inesquecível canto4 Altemar Dutra sendo inclusive convidado por uma gravadora para interpretá-lo, José Maria de França, grande violonista e
trompetista e que era conhecido entre os amigos como “Cavalo Velho”, e era filho de Caetano França, José Natanael de Souza (Juca de dona Iná), José Caetano Sobrinho, conhecido como Zelminha, o meu grande amigo José Assis de Assunção que é pai do Dr. Helder Assunção, o seu irmão Jorge de Altinho, nome artístico que segundo José, foi uma sugestão do Juiz de Direito, o Dr. Ives Miranda Mayal. Fora feito uma ratificação nos documentos pessoais do artista e o seu nome consta como Jorge de Altinho, que para mim e pra milhares de fãs, é considerado atualmente um dos maiores cantores e compositores da música nordestina. José de Assis, com o passar do tempo, tornou-se um bom clarinetista formado na Banda Santa Cecília onde tocou por um período de vinte anos chegando a ser considerado o 1° clarineta sob a regência do Maestro Félix de Barros. Ainda faziam parte do Valores de Nossa Terra, Elias Gomes da Silva ( Elias de Moisés), ele se achava o Reginaldo Rosse de Altinho, Antonio Emanuel Lins de Figueirêdo, (Totonho Lins), que tornou-se um grande cantor e compositor com CDs gravados. Enquqnto isso, Antonio João da Silva (Brinquinho), era um frequentador assíduo do movimento por ser admirador da música romântica.
Por fim, o Valors de Nossa Terra passou a acontecer no Clube da ALECE (Associação Lítero Educativa e Cultural Ipiranga), e que além dos cantores já citados, também chegaram a participar como cantores: Maria Jaidene Alves da Silva (minha irmã), que cantava a música “Cinderela”, e Irene Maria de Medeiros, filha do saudoso Ismerindo dos Correios, já Luiz Antonio da Silva, hoje Tenente reformado da PMPE apesar de não participar como cantor, tornou-se um grande músico e frequentador assíduo d o Valores de Nossa Terra.
Sem sombras de dúvidas, os maiores violonistas de Altinho, pelo menos nessa época foram: Zé Maria, Totonho Lins e Afonso Augusto, e, grande parte essa turma também foi responsável pelas grandes serestas e serenatas de Altinho. Eles saíam na calada da noite, de surpresa, por serem taxados de perturbadores da ordem pública.
Pois é, como o passado de Altinho foi privilegiado, também por coisas tão boas e sadias e que deram resultados excelentes.
A todos que de uma maneira ou de outra foram citados nessa crônica, o meu apreço pela tão importante participação e significância para a minha juventude. E, quanto aos que já desencarnaram, guardo com carinho as boas lembranças, mesmo vagas, porque também deram as suas contribuições e ajudaram a alegrar nossas velhas tardes de domingo.
Do mesmo modo, deixou registrado aqui, a mesma importância e significado dos que participaram do Valores de Nossa Terra nos períodos citados e que não pude lembrar, contudo, sintam-se com igual valor e com a mesma admiração.
Autor: Antonio Airton de Barros – Professor Especialista no Ensino de Hstória.
Em, 24.01.2019.
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