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ALTINHO URBANO: Uma velha aspiração se renova


"Altinho foi um sítio escolhido por José Vieira de Mello para fundar a sua fazenda. É um oiteiro, que fica nas margens do rio Uma, esbatendo-se para a caatinga do lado de Bebedouro e para o brejo do lado de Caruaru. As aguas do Uma quando sobem inundam os vales e isolam o oiteiro, ficando a cidade sem comunicações para a estrada de ferro central.
Os habitantes de Altinho tinham por isso, uma velha aspiração. Uma ponte no rio Uma e outra sobre o Taquara, a primeira de 25 metros e a segunda de cinco. Além das pontes um aterro que aproximasse a cidade do rio, sem o risco das inundações. 
Já na monarchia, os liberais e conservadores prometiam a ponte. Findou-se o Império, sem que as águas do Uma pudessem ser atravessadas de pé enxuto. Veiu a República e com ella renasceram as esperanças, mortas com o throno dos Braganças. Succederam-se os governos e o projeto da ponte. Terra do Barão de Contendas e de gente rebelde. Altinho não pediu mais. Ficou em atitude de protesto. Desciam e cresciam as aguas do Taquara, que se misturavam com as do Uma, desafiando o prestígio dos homens.
Veio o Estado Novo. Recebi uma carta, que era um desafio – se o novo regimen não deixa problema sem solução, mande construir a ponte do rio Uma, que é uma aspiração secular do povo de Altinho.
Despachei a carta para o secretário da Viação e Obras Publicas recomendando-lhe que estudasse o assunto. Em dois tempos foi feito o projeto, foi aberta a concorrência e construída a ponte que fui inaugurar. Tanta gente agradecida. Tanta gente alegre e feliz.
Uma ponte que era um nada para o governo e tudo para uma população. Uma ponte, um pontilhão, um aterro, que custaram ao tesouro cerca de duzentos contos de réis, e aos habitantes de Altinho um sonho de aspirações e desalentos, o desejo de muitas gerações.
Não custa servir. O que falta é a vocação de servir. A sensibilidade da função pública. A razão do poder, que é o bem público. Bem público, que é o interesse de todos, e não a comodidade de uns, as vantagens de poucos e a indiferença pela necessidade dos outros.
Assim escreveu Agamemnon Magalhães para o Jornal A Folha da Manhã e Rádio Clube de Pernambuco, em 14 de maio de 1939, quando da excursão do Interventor Federal ao Interior do Estado para inauguração da ponte sobre o Rio Uma em nossa cidade.
O Jornal ainda fez o seguinte comentário: “O primeiro dia da excursão do interventor Agamemnon Magalhães ao interior do Estado, decorreu num ambiente de animação. O chefe do governo estadual, em todas as cidades visitadas, recebeu as maiores e mais francas homenagens, destacando-se, dente todas, as expressadas pelos alunos das escolas públicas de Altinho e Bebedouro, que excederam a todas as expectativas. Na primeira destas cidades, ao longo da estrada de rodagem, tomou em alas toda a população escolar do município, sendo organizada assim, a recepção ao interventor federal e comitiva, para a solenidade de inauguração da ponte sobre o rio Uma.”
Inclusive, conversando certa vez com o Senhor Antonio Benevides, ele me dizia que: “o Dr. Lins foi prefeito de Altinho no período de 5 de outubro de 1938 a julho de 1939, sendo nomeado no dia 1 de outubro de 1938. Foi quando construiu a conhecida rodagem velha que liga Altinho a Caruaru e também os pontilhões, bem como a ponte sobre o Rio uma, uma promessa feita a ele durante o Estado Novo, por Gercino de Pontes, filho de João Guilherme de Pontes e a ponte foi inaugurada durante a sua gestão.”

Infelizmente a população de Altinho, incluindo agora uma nova geração, traz de volta a aspiração – que era velha – de ter de novo, a ponte sobre o Rio Uma, pois a que foi inaugurada no ano de 1939, há mais de dois anos que se encontra interditada, tendo sido considerada pelo engenheiro como sendo “de risco alto”.
De novo a população, o governo municipal e a imprensa de nossa cidade Têm solicitado ao governador do Estado a reconstrução a ponte e também o Recapeamento Asfáltico da PE 149. Portanto duas importantes obras que precisam ser realizadas em caráter de urgência. A primeira, porque além de está oferecendo riscos, haja vista que muita gente teimosa insiste em atravessá-la a pé e também atravessam ainda motociclistas, ciclistas e carroças de burro, não se descartando desse modo, uma possível tragédia, devido o desprendimento de grande parte do concreto que compõe o piso da referida ponte.
Como se sabe, a ponte dar acesso a importantes localidades rurais de onde vem pessoas para a cidade e também para o escoamento produtivo do nosso município, e, ainda possibilitando o acesso a estradas vicinais, que ligam a PE 147, incluindo a cidade de Caruaru.
O Rio Uma, “que nasce pras bandas de Capoeiras”, (parte da letra da música de Jorge de Altinho, Rio Uma), passando em Altinho/ nem que seja um minuto/ele se alegra e se agita/ quando vê moça bonita/ na barreira matutina...”
Infelizmente o Rio Uma que acanhadamente continua passando por nossa cidade, parece se entristecer, mesmo “vendo moça bonita na barreira matutina”, falta-lhe o seu adorno que é a ponte por sobre ele, que o enfeita, que o deixa vaidoso e formoso.
Mas, como bem disse no passado o saudoso Agamemnon: “Altinho, terra do Barão de Contendas e de gente rebelde.” Acredito que ainda somos assim e “não vamos pedir mais e ficar em atitude de protesto.” Enquanto isso nos valemos da passagem molhada feita sobre o Rio Uma no ano de 2007 e que foi construída na gestão do saudoso prefeito Edmilson de Barros melo, indo pela rua Pe. Félix Barreto.
E, quando as águas descerem e crescerem infelizmente os altinenses não poderão atravessar mais o rio “de pés enxutos”, tão pouco os diversos meios de transportes poderão trafegar o que representa um atraso para o nosso município.

AUTOR: Antonio Airton de Barros – Professor Especialista no Ensino de História.
Obs. Existem no texto inicial algumas palavras por ter sido transcrito conforme documento original.
Pesquisa realizada no Jornal A Folha da Manhã, Recife, 1939, p. 1 a 3; Arquivo do memorial Altinense.
Em, 25.02.2019




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postado por Altinhoshow

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