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Conheça a Historia da chegada do Cristo na cidade de Altinho, escrito por Antonio Airton





No dia 1º de outubro do ano de 1937, a Paróquia de nossa cidade comemorava o seu primeiro centenário com uma vasta programação, incluindo a chegada do monumento do Cristo Crucificado.
A programação foi elaborada pelo Pe. Bernardino Carvalho, vigário da época, e se estendeu até o dia 24, considerado o Dia Universal das Missões e que tinha como finalidade a formação da consciência missionária da paróquia. E, neste período a nossa cidade era governada pelo então prefeito Ignácio Baptista de Arruda Mello.
A programação foi aprovada previamente pelo Exmo. Sr. Arcebispo Metropolitano, D. Miguel de Lima Valverde e que constava do seguinte: Mês das Obras Públicas das Missões; Semana de jesus Cristo Rei; Dia de Gratidão aos Benfeitores Mortos da Paróquia; Tríduo da Obra das Vocações Sacerdotais; Chegada de Cristo; Sermões de Missões pelo Padre Francisco; Entronização do Coração de jesus em todos os lares da Paróquia; Imposição dos emblemas próprios a algumas centenas de novos associados do apostolado da oração; Dia da Catedral de Olinda; Tríduo Festivo do aluno do Catecismo Paroquial; Exposição de Trabalhos Manuais do Externato Paroquial Santa Terezinha e da Escola Paroquial; Benção Solene da imagem de Nossa Senhora das Graças, da Pia união dos Filhos de Maria; inauguração do prédio do Teatro Paroquial; Primeira Comunhão dos Alunos do Catecismo: Santas Missões pregadas pelo Missionário Frei Vital e outro religioso capuchinho; Visita do Exmo. Sr. Arcebispo e administração do sacramento da Confirmação (crisma); Inauguração do Monumento do Centenário, pelo Exmo. Sr. D. João da Mata Amaral; Novenário da Padroeira; Encerramento das Festas Centenárias; Missa Campal de Ação de Graças; Álbum do Centenário.
Como se pode observar, foi uma programação muito bem elaborada, e que muito movimentou a cidade durante o período, do dia primeiro ao dia vinte e quaro de outubro com metodologia e roteiro muito bem delineados e que acabou se estendendo, (de 25 a 31 de outubro), quando foi realizada a semana de Jesus Cristo Rei com a finalidade de instruir os fiéis sobre o dever da Ação Católica. No dia do encerramento, em 31 de outubro, houve a celebração de uma missa e a comunhão geral, missa cantada as cinco horas, com exposição e adoração do Santíssimo.
Apesar de todos os dias contidos na programação terem cada um, sua importância, acredito que o dia mais esperado deva ter sido o dia da chegada do monumento do Cristo à nossa cidade, que foi trazido da cidade de Água Preta. E assim constava na programação elaborada pelo vigário Bernardino: “No dia 16 de novembro deverá chegar à Altinho a imagem (só o corpo que deverá ser colocado na grande cruz) de Cristo Crucificado. O vigário convida todos os altinenses a se reunirem na manhã do fia 16 em frente a Matriz, para irmos buscar em procissão, a imagem do nosso monumento. Iremos recebe-la nos limites da Paróquia de Altinho com a de Bebedouro. Uma salva ou uma girândola de foguetões avisará ao povo a hora da partida. Espera-se que façamos um sacrifício e nos incorporemos a esse préstito. O Pe. Francisco virá com a imagem e à chegada em Altinho esse missionário fará um sermão.”
“O corpo do Crucificado (sem a cruz) pesa 53 arroubas e será colocado na grande cruz (de 8 a 9 metros com a base) no dia 18 e novembro. Todo o monumento será feito em cimento armado. As dimensões do corpo do Crucificado são muito maiores do que a de um homem de tamanho comum.”
Com a chegada do Monumento do Cristo e em seguida a exaltação na cruz, começou uma série de sermões e também de missões feitas pelo Padre Francisco, durando em média uma semana, tempo em que provavelmente o Pe. Francisco permaneceu em Altinho.
Constava ainda na programação: “Provavelmente entre os dias 13 e 18 de dezembro, deverá efetuar-se a solene inauguração do Monumento do Centenário, pelo exmo. Sr. Bispo de Cajaseiras, D. João da Mata Amaral, filho da Paróquia de Altinho (...). As festas de inauguração serão as mais solenes do programa centenário. A comissão central contratará uma banda de música de Recife, para abrilhantar ao ato da inauguração.”
Contou-me Socorro Duarte, que no dia 16 de novembro do ano de 1937 chegava à Altinho só a imagem do Corpo do Cristo Crucificado, depois é que foi construída a cruz – como consta na programação – e colocado o Monumento, sendo assim o grande marco. Também me disse que o Pe. Francisco era holandês, mas que todos conhecia como o Padre Francisco de Água Preta e que D. João da Mata era filho de Altinho.
Conforme anunciava a Programação do Centenário da Paróquia, Socorro Duarte também afirmou que o encontro quando da chegada do Monumento do Cristo, se deu no limite entre Bebedouro - hoje Agrestina - e Altinho, inclusive grande parte da população de Água preta acompanhou a imagem a pé, juntamente com o Pe. Francisco. Ainda segundo Socorro, a sua mãe, Quitéria Rodrigues Duarte relatava que o povo chegou muito cansado e que foi oferecido um lanche na Fazenda Fortaleza, cujo proprietário na época era o Sr. Francisco Beltrão, um solteirão que morava com suas irmãs. Chegando na fazenda o povo descansou e só depois seguiu para a cidade de Altinho.
Na chegada houve muita festa e um bonito sermão feito pelo Pe. Francisco Gernedts que era o vigário da Paróquia da cidade de Água Preta. Socorro afirma que tudo o que estava contido na programação foi vivenciado e que a sua mãe nesse período, estava com uma ferida muito grave em uma das pernas e que a mesma tinha feito uma promessa que se ficasse curada acompanharia a chegada do monumento. Nesse contexto, apareceu um rapaz que se dizia enfermeiro e que fez uns remédios e ela começou a melhorar. Contudo, por conta do problema de saúde, a sua vó queria impedir-lhe de todo o jeito que ela fosse acompanhar o cortejo, mas o avô interferiu e permitiu e, ela acompanhou e em seguida ficou curada daquela enfermidade, ou seja, a ferida cicatrizou.
“As festas do 1º Centenário da paróquia de Altinho, conforme consta, ocorreram no dia 31 de dezembro, à meia noite. Às cinco horas houve salva, repique e fogos; às sete horas, missa com cânticos e comunhão geral; às 9 horas, missa solene (com três padres), sermão ao evangelho pelo diácono da missa; às quatro horas da tarde, procissão da padroeira; às oito horas, sermão, benção solene (com três padres); às vinte e quatro horas, (meia noite), será cantado o solene TE-DEUM, seguindo-se a consagração da paróquia a Nossa Senhora do Ó, terminando com a benção ao SSmo.”
Ainda sobre a chegada do Monumento do Cristo Crucificado, assim escreveu o saudoso Dr. Moacir Omena: “O então vigário Pe. Bernardino de Carvalho encomendou ao escultor, Pe. Francisco de Água Preta a feitura de uma imagem de Cristo Crucificado que foi esqueletizada.
Partiu em novembro daquele ano, a imagem do Cristo da cidade de Água Preta com enorme acompanhamento. O seu trajeto se cobriu de grandes solenidades religiosas, pois por onde passava, mesmo nas margens das estradas, era venerado pelo povo, que enfeitava o trajeto. À frente do cortejo vinha o Pe. Francisco com sua barba grande e sua mitra preta,
indicativo de sua ordem religiosa. O primeiro lugar do pernoite foi em Lagoa do Gato, onde houve cerimônia religiosa e pregação (...). Em Bebedouro, a multidão já era grande porquanto os fiéis de lá se juntaram aos acompanhantes desde o começo do percurso e mais carros de bois, cavalos, gente a pé e carros que vinham de Altinho. A cidade estava esperando a chegada, às dez horas, enquanto que desde às seis horas era grande o movimento rumo a estrada e Agrestina.
Quando a imagem saiu de Agrestina, era tão grande o número de peregrinos e acompanhantes que a estrada não cabendo, o povo teve de arrancar cercas, alargando a estrada. A cidade nunca foi tão rica e carinhosamente ornamentada. Os escolares fardados e as janelas engalanadas para receber a efígia do Cristo Crucificado. Enquanto isso o Pe. Bernardino repicava o sino e pedia que as crianças e senhoras gestantes não fossem encontrar a imagem para não haver acidentes, tão grande era a multidão.”
No final da programação da Festa Centenária, onze observações que se achou oportunas foram assinaladas; dentre elas destaquei três itens que muito me despertaram a atenção: I- Recomenda-se aos fiéis o máximo respeito às determinações da Santa Igreja, no tocante às modas. Ninguém deverá esquecer-se que durante as funções religiosas os homens devem estar de cabeça descoberta e as mulheres, ao contrário, devem trazer os seus véus; II- Quanto possível, os homens estejam separados das mulheres durante os sermões das missões. Seria aconselhável ficassem os homens ao lado direito do missionário e as mulheres do lado esquerdo; III- O vigário aproveita a publicação e divulgação deste programa para pedir ao povo altinense o maior respeito possível ao monumento sagrado à Jesus Cristo Crucificado, que vai ficar em nossa praça principal, morando conosco, de braços abertos para nos receber a todos, inocentes e pecadores, como sinal perene da misericórdia infinita que sempre chama a ovelha tresmalhada ao aprisco abandonado e reserva o mais generoso e sincero perdão ao pecador arrependido. Depois das festas, a ninguém será permitido promover ajuntamento profanos, ou desnecessários ao pé do gradil que protege o monumento.
Destaquei estes três, porque chamou-me a atenção ao refletir como é que se dá esse tipo de respeito hoje em dia em relação ao Monumento, ás vezes observo que as pessoas que passam pelo Monumento, e é como se nada ou nenhuma representação estivesse ali, isso sem falar no aglomerado que as vezes se forma nas proximidades do Monumento sem nenhum sinal de respeito, infelizmente. Mas, como bem disse o Padre,” ele está ali de braços abertos protegendo inocentes e pecadores, nosso mais Ilustre Inquilino está a proteger Altinho e os altinenses.”
Para escrever este artigo contei com a colaboração (relato oral) de Maria do Socorro Rodrigues Duarte, professora aposentada da Rede Estadual de Ensino e da Rede Privada de Ensino, e que foi secretária de Educação do Município no período de 1983 a 1996, sendo 10 anos durante as gestões do prefeito Dr. Carlos de Castro e 3 anos e meio quando da gestão do então prefeito (falecido) José Ferreira de Omena. Foi professora e diretora do Colégio Cenecista de Altinho durante o período de julho de 1986 a dezembro de 2007, num total de 21 anos.
Atualmente Socorro Duarte é Ministra da Eucaristia, (Ministra extraordinária), que desempenha a função de distribuir a Hóstia em domicílio aos enfermos, mas que por motivos de saúde, cumpre essa tarefa apenas no interior da Igreja. É um ser humano maravilhoso com quem tive a oportunidade de trabalhar por vários anos, ela como professora regente de sala de aula e depois diretora e eu como professor.
A ela o meu carinho, apreço e sincero agradecimento por ter me recebido em sua residência pacientemente por duas vezes, contribuindo valorosamente para que eu pudesse concluir este artigo.
Pesquisas: Programa das Festas Centenárias da Paróquia de Nossa Senhora do Ó – 1937 – Altinho – PE. (p. 1 a 8)
Altinho, 30 de setembro de 1937 – Pe. Bernardino Carvalho – Vigário.
Tipografia Leite & Silva – Caruaru,
Oliveira, Moacir Omena de. ENSAIO HISTÓRICO DE ALTINHO - Altinho – 1770 – 1970 - Edição Preliminar – Pernambuco – 1971. Bahia, 1970. (p. s nº)
*Homenagem do autor à sua terra Natal.
Autor: Antonio Airton de Barros – Professor Especialista no Ensino de História.
Escrito em, 02.04.2019.
Publicado no Jornal Myster em, 18.12.2019.
Fotos de: Antonio Airton de Barros.


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postado por Altinhoshow

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