Uma mercearia é uma pequena loja tradicional que vende produtos de grande consumo, sobretudo alimentos, podendo completar a oferta com produtos de higiene, bebidas e objetos de uso doméstico.
Um merceeiro, dono de uma mercearia, armazena diferentes tipos de alimentos de várias proveniências para venda a retalho.
No Brasil, sempre foi comum alguém dizer “A venda de Seu Manuel”, a “venda de Seu Antônio,” ou ainda, “A vendinha da equina...”
Esta denominação de venda é usada para estabelecimentos de pequeno porte onde são vendidos de tudo um pouco e não se compara a uma mercearia pela quantidade do estoque.
Pois é, a nossa cidade também viveu esse período das inesquecíveis vendas a exemplo da Venda de Seu Neco, Venda de Mário Assunção, Venda de Otávio, Venda de Enéas Luiz, Venda de Roque, Venda de Berto, Venda de Miguel, Venda de João Rei, Venda de Deda Rei, Venda de Miliu, Venda de Manuel da Água, Venda de Manuel Terto, dentre outras, e também viveu a época das saudosas mercearias tais como a Mercearia de Seu Inácio Pinto, Mercearia de Zé Moura, Mercearia de João Moura e outras, contudo, aqui vou me reportar de forma mais expressiva sobre a Mercearia São Roque e seu proprietário.
Roque Bezerra Sobral nasceu no dia 31 de janeiro do ano de 1925, na localidade do Sítio Barra, do nosso município e era filho de José Felipe Bezerra Sobral e de Josefa Maria Bezerra Sobral.
Roque, ou Seu Roque, como era conhecido em nossa cidade tinha apenas o curso Primário e sempre dizia que a sua melhor professora havia sido Dona Lia Bezerra.
Oriundo da zona rural, conforme citado anteriormente, só veio morar na cidade no ano de 1958, ano em que montou a mercearia com o nome de “Mercearia São Roque”, inicialmente no prédio onde funciona hoje os Correios, ou seja, no prédio de Zé Melânio, que no passado era um sobrado e com o tempo a mercearia foi mudada para o endereço onde atualmente funciona a conceituada loja de sua neta DAGABY, uma loja de grife masculino e feminino, localizada na Praça Júlio Rodrigues Filho, nº 31.
Na mercearia São Roque, os artigos mais vendidos era: estivas em geral, miudezas, material de construção, cereais, munição para espingarda e para revólver, querosene para candeeiro, carne de charque, bacalhau, sardinha em lata, dentre outros.
Roque Bezerra Sobral casou-se no ano de 1961 com Dona Maria Joana de Sobral e era filha de Joaquim Sebastião Alves e Joana Josefa de Jesus que era irmã legítima de Júlio Rodrigues Filho. Juntos tiveram quatro filhos: José de Arimatéia Sobral, Alcioneide Maria Sobral Rodrigues, José Adroaldo de Sobral e José Aldrin Sobral, e, com o passar do tempo, tiveram os seguintes netos: Joana Gabriella de Sobral, Hilton Felipe de Araújo Carvalho Sobral, Laís Amanda Sobral Rodrigues (In Memória), Renata Lívia sobral :rodrigues e Vitória Emanuela de Oliveira Sobral.
Na década de 1970, Roque Bezerra ingressou na política de Altinho e, mais precisamente no ano de 1972, foi eleito pela primeira vez para o cargo de vereador, depois se elegeu por mais três vezes, totalizando quatro mandatos. Vale salientar que ele foi vereador numa época em que o vereador não recebia remuneração e os votos eram conquistados por meio de troca de favores, além do prestígio político e da amizade.
Durante os seus mandatos apresentou diversos projetos, dentre eles a desapropriação do terreno da Vila Nova para doação a população de baixa renda e que não tinha moradia; foi autor do projeto que tornou o Jornal Myster veículo de utilidade pública e a denominação da atual Praça Júlio Rodrigues Filho, antes Praça do Centenário.
Durante a sua presença entre nós, Roque Bezerra construiu inúmeras amizades, dentre elas: João Caetano Sobrinho, Júlio Rodrigues Filho, deda Massapê, Zé Bom, Pedro Urubano, Metódio, Zezinho Bernardino, Pedro Silvino, Sargento Doca, Dr. Edmilson de Barros Melo, Zeca Omena, Júlio Omena e muitos outros.
Roque Bezerra foi um modelo de cidadão altinense, que contribuiu para o engrandecimento de nossa terra e, que soube educar os filhos dentro da perspectiva de valores éticos e morais que constituem o cidadão de bem. É como bem afirmou um de seus filhos, José de Arimatéia: “Todos os dias temos algumas situações que nos recorda os seus ensinamentos. O mais importante deles é o desapego aos bens materiais. Somos quatro filhos e nenhum possui características de ganância pelo pouco e bens que ele deixou. Outra coisa muito importante foi a nossa educação, ele nunca bateu em nenhum de nós, nunca foi mesquinho conosco e nem com a nossa mãe. Era uma espécie de conselheiro e amigo.”
Um dos casos engraçados sobre a então Mercearia São Roque é que, ele nunca teve a sorte de conseguir as coisas com facilidade e, quando ingressou na política, esta só tirou e nunca acrescentou nada. Uma das vezes que a família o viu ficar alegre em poder ganhar alguma coisa, acabou não dando certo. Nessa época o prefeito era Júlio Rodrigues Filho, pessoa da confiança de Roque. Numa sexta-feira, o então prefeito que também era sócio majoritário Cooperativa mandou chama-lo e disse: Compadre Roque, segunda-feira mande pegar aqui um carinho de mão novo, de rodinhas de borracha – era o lançamento da época – e Roque comentou em casa dizendo, “até que enfim eu vou ganhar alguma coisa na política...” Mas, infelizmente antes que isto acontecesse, num dia de domingo, 24 de julho de 1983, o Sr. Júlio Rodrigues veio a falecer. Foi um acontecimento que causou uma comoção de grande proporção, que durou vários meses, e, lá se foi a possibilidade de Roque receber como presente o carrinho de mão.
Anos depois, já tendo falecido em 27 de setembro de 2005, vítima de um AVC, o inesquecível Roque Bezerra Sobral, (faleceu em) no local da mercearia chegou a funcionar no local o Diretório da Deputada Estadual Mirian Lacerda, que, por ironia, segundo Arimatéia, nunca foi pago o aluguel daqueles três meses do período, tão pouco depois dele se ganhou nada.
Agora o destino se encarregou de, inesperadamente, perpetuar o local onde por décadas funcionou a Mercearia São Roque e foi inaugurada no dia 9 de novembro de 2019, a mais nova e moderna LOJA DAGABY, da neta mais velha do Sr. Roque Bezerra Sobral. A ela foi dada a incumbência de honrar e de preservar aquele mágico local que sina tem fortes resquícios de um passado de luta, de trabalho honesto, e que permitiu a criação, educação e construção de uma família exemplar.
Autor: Antonio Airton de Barros – Professor Especialista no Ensino de História.
Escrito em, 22.11.2029 a partir de relato oral de José de Arimateia Sobral.
Conceito de mercearia: https://pt.mwikipedia.org.wiki.
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