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UM GUERREIRO QUASE ALTINENSE, ESCRITO POR ANTONIO AIRTON




Guerreiro é um nome de origem portuguesa, do gênero masculino. Palavra que designa pessoas que são líderes, organizadas, perseverantes e confiantes. É o que se pode notar neste quase altinense de expressividade valorosa para nossa cidade.

José Batista Guerreiro era filho primogênito do Senhor João Batista Guerreiro e de Dona Maria Amélia de Farias. Ele nasceu no dia 28 de março do ano de 1936 no Sítio Capivara do município de Agrestina – PE. Seus irmãos paternos e maternos: Amara Guerreiro, Severino Guerreiro e Antônio Guerreiro (todos já falecidos); Irmãos apenas paternos: Maria Guerreiro, Carmen Guerreiro, Terezinha Guerreiro, Neves Guerreiro e Manuel Guerreiro.

O avô de Zé Batista era um português que adentrou o interior do Estado de Pernambuco vindo parar na cidade de Agrestina mais precisamente para o Sítio Capivara. O senhor João Batista Guerreiro (pai de Zé Batista) casou-se com uma cabocla por nome de Maria Amélia de Farias e desta união nasceu Zé Batista.

A mãe de Zé Batista faleceu quando ele tinha apenas 7 anos de idade. O viúvo João Batista casou-se novamente gerando assim uma segunda família. O nome de sua segunda esposa era Zulmira maria da Conceição que faleceu no dia 01 de fevereiro deste ano de 2020 aos 94 anos.

“Zé Batista”, como era conhecido pelos altinenses não teve a oportunidade de estudar em escolas, ele aprendeu a ler e a escrever com o seu pai que era professor na comunidade.

Foi morando no sítio que Zé Batista cresceu e aprendeu a lidar com a agricultura. Sua primeira profissão foi a de agricultor. Ele chegou a colocar, na época, roçados grandes e sem nenhuma tecnologia no campo ele preparava até três hectares de terra para plantar.

Foi entre 1957 e 1958 que Zé Batista conheceu Necilia Deolinda Guerreiro com quem se casou em 28 de dezembro do mesmo ano e juntos tiveram os filhos Nivaldo Batista Guerreiro e Orlando Batista Guerreiro. Depois de casados, inicialmente foram morar na então Rua da Foice, atualmente Rua Dr. Rabelo. Só depois de alguns anos é que ele comprou uma nova casa junto com um terreno à Rua Pe. Manoel Zacarias. Atrás da casa existe um terreno medindo mais ou menos três hectares que ele loteou e deu o nome de Loteamento Necilia Guerreiro, em homenagem a sua esposa, mas não se sabe se foi aprovado pela Câmara de Vereadores.

Zé Batista resolveu deixar a agricultura e entrou para o comércio de laticínios. Ele comprava manteiga, queijo e também carne de sol para vender na cidade de Recife e na cidade de Cabo de Santo Agostinho. Porém, como se tratava de produtos perecíveis e às vezes não tinha venda imediata, os produtos estragavam, isso lhe causava sérios prejuízos. Ele percebeu, então, que aquele tipo de comércio não era viável e, portanto, não havia mais como continuar. Isto se datou por volta dos anos de 1960.

Em 1970, seu grande amigo José Alves da Silva (Zé Genuíno), já falecido, foi para a cidade de São Paulo para negociar no ramo de retalhos e depois tecidos e confecções. Foi ele o grande incentivador para que o amigo Zé Batista entrasse também nesse tipo de negócio.

Segundo Nivaldo Guerreiro, o seu pai costumava falar que dois grandes amigos o colocaram no comércio de retalhos e de tecidos: “Zé Genuíno” e o Senhor Otávio, mais conhecido por Dudu da cidade de Ibirajuba (ambos são falecidos). Foi a partir de então que ele foi tomando gosto pela nova atividade, trabalhando com retalhos e peças com pequenas avarias. Ele comprava em São Paulo, nas fábricas de tecidos e vendia para a cidade de Santa Cruz do Capibaribe, município que estava começando a fabricar roupas com um tecido chamado helanca – segundo contam, foi a partir daí que se originou o nome Sulanca – que vinha do Sul do país.

Zé Batista, Zé Genuíno e Otávio foram os primeiros a mandarem retalhos de São Paulo para a cidade de Santa Cruz do Capibaribe, a partir daí, começou a época de bonança para ambos. Zé Batista comprou o seu primeiro carro, uma Aeroilis, e veio para Altinho. Quando chegou no início da Rua Boa Vista começou a buzinar até chegar em casa chamando a atenção dos moradores da cidade. Assim a vida financeira foi melhorando para os três amigos!

Zé Batista era um homem muito católico e estudioso da Bíblia Sagrada, lia os Evangelhos e baseado na caridade em que a Igreja Católica prega, costumava não ter apego ao dinheiro, e, sempre que vinha a Altinho trazia tecidos para doar às pessoas mais carentes.

Lembra Nivaldo que quando seu pai ia visitar o seu avô, ao se despedir pedia-lhe a benção, pegava uma quantia em dinheiro e dava ao seu avô que ao receber dizia: “pra quê tudo isso?” e Zé Batista respondia: “o Senhor merece muito mais!”

José Batista ao longo do tempo foi se tornando uma pessoa bastante conhecida na cidade, fez muitas amizades. Além de ser um homem muito religioso, comprometido com muitas práticas religiosas da Igreja Católica, colaborava, inclusive, com a festa de São Sebastião e com as noites do mês Mariano.

Por ser muito amigo do prefeito Júlio Rodrigues Filho, em 1981 surgiu o convite por parte do mesmo para que Zé Batista fosse o presidente da festa de São Sebastião, diante de todas suas ações como colaborador - desde o ano de 1977 até 1982- período que se refere ao último mandato do então prefeito Júlio Rodrigues. Além disso, havia fato de por várias vezes Guerreiro ter sido o Patrono das “noites Mariana”, (noiteiros do mês de maio).

Durante os anos que se seguiram, 1982, 1983 e 1984 foi nomeado para presidir a festa. A comissão foi formada com Dona “Bidinha”, Lourival, (ambos já falecidos), Edvane Félix, dentre outros. Segundo Edvane, esta comissão foi até a cidade de Santa Cruz do Capibaribe para arrecadar verbas para a festa e, diante da grande amizade de Zé Batista naquela cidade, conseguiram uma boa quantia, contudo não foi suficiente, pois tinham sido contratados três a quatro parques de diversões, banda de música, muitos fogos, já que ele gostava muito de bandas e fogos e costumava dizer que aquilo era um presente para o Padroeiro. Então, Batista completou a quantia que faltou com dinheiro do próprio bolso. E quando, segundo Petrúcio Rodrigues, Júlio Rodrigues foi restituir a quantia ele não quis receber dizendo que aquilo era a sua contribuição.

Zé Batista também esteve presente na história da FAMEA, (Fundação de Amparo à Maternidade e Educação Altinense), pois pouco tempo depois do falecimento de Júlio Rodrigues Filho - que era quem mantinha a fundação – por indicação do seu filho José

Petrúcio Rodrigues, José Batista foi convidado para assumir a presidência da mesma, devido ao seu histórico de ajudar os mais pobres. Foi uma cerimônia simples, lavrada em ata, com a presença de várias autoridades do município.

A instituição na época recebia recursos da antiga LBA (Legião Brasileira de Assistência), entretanto, estes eram insuficientes, então, José completava pagando as despesas com dinheiro do próprio bolso quando o recurso faltava e sem nenhuma restituição. A fundação cuidava de 70 a 80 crianças e, através de amizades em São Paulo, Guerreiro conseguiu uma doação de roupas que vinha a cada três meses da Suíça e eram distribuídas para as crianças e para as mães carentes, a maioria da Vila Nova.

A história do sino da igreja está entrelaçada com a história de Zé Batista. Isso porque no ano de 1986, o sino da Matriz de Nossa Senhora do Ó, batizado com o nome de Margarida, apresentou um grave defeito no som ao repicar. Contou Zé da Viagem que certo dia estava na torre juntamente com Nenem do Sr. Firmo quando perceberam que o sino apresentava uma rachadura. O Pe. Bernardino mandou o sino para ser consertado na oficina do Sr. José Gabriel, na cidade de Cachoeirinha. Contudo, quando foi trazido de volta não tinha mais o mesmo som e, a pedido do Pe. Bernardino, José Batista levou o sino para a cidade de São Paulo, pois ele havia descoberto lá uma fábrica de sinos para onde levou o sino antigo e, enquanto este recebia o reparo, ele comprou um sino menor e o trouxe e doou para substituir temporariamente o antigo.

Depois de consertado, o sino foi trazido de volta para Altinho, em uma Rural, pelo Sr. Dão Soares (falecido). Todavia, já não tinha o mesmo som, pouco tempo depois apresentou outra rachadura e a população mais uma vez voltou a reclamar.

Contou o Pe. Ediberto a Nivaldo que, ainda em 1986, José Batista, certo dia, manifestou o desejo de construir a outra torre da Igreja, provavelmente depois de conversar com os amigos que costumeiramente se reuniam em um dos bancos da Praça Júlio Rodrigues Filho. Quando ele e os amigos olhavam para a Igreja, achavam que estava faltando alguma coisa, foi então que surgiu a ideia de pedir autorização ao Padre para a construção da mesma. O Padre com o apoio da maior parte da população logo aprovou o projeto, dessa maneira o desejo de Zé Batista iria ser realizado.

Relatou-me Nivaldo que o seu pai comentava em casa: “já que vou mandar construir a segunda torre da Igreja, ela vai ganhar um sino novo”. E assim foi feito. Ele trouxe um sino novo da cidade de São Paulo que lhe foi dado o nome de “O Batistão”, por George Fotógrafo. Quem fez o batismo do sino foi o Pe. Ediberto, mas com o passar do tempo este sino também rachou. Disse Zé da Viagem que os três sinos se encontram inativos nas dependências da Igreja.

A obra da segunda torre da Matriz, disse Zé da Viagem, que foi o próprio Zé Batista quem formou a equipe de trabalhadores: o mestre de obras José de Odila, Zeca, primo de Joselito filho de Peba do Sítio Bonita, Nequinho, filho do Sr. Artur, Zezinho Pé Roxo, dentre outros. A construção começou no ano de 1986 e terminou no período entre o Natal e o Ano Novo. O projeto foi acertado para que fosse inaugurado na vinda de Frei Damião a Altinho, entretanto, por motivo desconhecido o mesmo não veio.

Algumas pessoas chegaram a criticar a construção da segunda torre, diziam que ela descaracterizava o estilo das Igrejas do Brasil, o estilo Barroco. Coincidentemente, Zé Batista e os amigos acabaram por acertar na ideia porque no projeto original da Igreja já

estava previsto a edificação da outra torre. E Concluída a construção, surgiu uma nova necessidade: um novo sino, como já foi relatado.

Durante o período que o Pe. Geraldo esteve à frente da Paróquia de Nossa Senhora do Ó, Zé Batista também muito colaborou, principalmente com os serviços de pintura e também a compra do som.

Além de bastante amigo, Zé Batista também foi um grande admirador e eleitor fiel de Júlio Rodrigues, tanto que em 1982 deu total apoio ao amigo Júlio quando houve eleição municipal cujo candidato era Amaro Costa (Senhorzinho), apoiado por Júlio Rodrigues contra o Dr. Carlos Henrique de Almeida Castro que acabou vencendo essa disputa política.

Em 24 de julho do ano de 1983, o grande líder político Júlio Rodrigues faleceu e com esta fatalidade o grupo político, o “Partido de Júlio”, como ficou conhecido entre os seus eleitores, enfraqueceu. O Dr. Carlos, por conseguinte, teve o seu primeiro mandato com uma duração de seis anos comandando a política do município, ficando assim, o outro lado conhecido como “as viúvas de Júlio” porque haviam perdido o seu líder.

Com o advento da eleição de Miguel Arraes em 1986, candidato apoiado pelo saudoso Dr. Moacir Omena de Oliveira, volta a esperança do antigo grupo de Júlio, liderado por Moacir Omena que tinha como proposta se opor ao governo do Dr. Carlos de Castro.

Em 1988 houve eleição municipal tendo como candidatos o Dr. Moacir apoiado pelo grupo de Júlio X José Ferreira de Omena, apoiado por Dr. Carlos de Castro. Zé Batista era bastante amigo de Zeca Omena, contudo, pelo tempo de amizade e por questões políticas, ele resolveu apoiar o Dr. Moacir, continuando fiel ao grupo político e à memória de Júlio chegando, inclusive, a financiar vários eventos da campanha e grandes comícios.

O Dr. Moacir perdeu a eleição e, mais uma vez, as viúvas ficaram desestruturadas. Com o passar do tempo, houve o rompimento de Zeca Omena com Dr. Carlos e, a partir daí já não era mais o grupo de Júlio, e sim, o grupo de Zeca Omena, que estava se projetando como uma nova base política de Altinho. Portanto, foi se estabelecendo assim, o grupo político de Zeca Omena x o grupo político do Dr. Carlos Henrique de Almeida Castro.

Em 1992, Zeca Omena precisou de um candidato para dar continuidade à sua sucessão, quando foi sugerido o nome de José Batista Guerreiro, provavelmente por ser uma pessoa que amava Altinho e ser um empresário bem sucedido, ele de pronto aceitou o convite para ser o candidato, o que de certo modo desagradou a sua família, haja vista que ele era um homem muito querido por todos os altinenses. Ele possuía uma loja em São Paulo, outra em Cupira e prestes a abrir outra loja na cidade de Caruaru e, segundo o pensamento da família, teria agora quem o amasse e teria também quem o odiasse.

Neste mesmo ano, teve início a campanha eleitoral, até que bem equilibrada, mas aconteceu um evento fora da proposta política: os tiros disparados pelo então vereador Manoel Antônio contra Dr. Carlos, seu primo e adversário político, pois apoiava José Batista. Mesmo assim, a campanha continuou com grandes comícios na cidade e na zona rural. Foram contratados muitos ônibus da empresa Itapemirim para o transporte do povo, além de carros particulares e show com a dupla sertaneja Pinheiro e Pinheirinho e muito mais. Apesar de todo investimento, José Batista perdeu a eleição, mesmo assim, o grupo de Zeca Omena continuou unido, quatro anos depois “Zeca” ganhou a eleição. E, neste

mandato além de outras ações criou a Secretaria de Ação Social do município e convidou Zé Batista para assumir a pasta, sendo assim o primeiro secretário de Ação Social do município. Depois assumiu a Secretaria de Agricultura.

José Batista Guerrero foi um homem que gostava de construir e cultivar amizades. Algumas vezes, já com 77, 78 anos de idade, por exemplo, conversava muito com o Dr. Carlos De Castro, embora muitos pensassem que eles tivessem inimizade. Muito pelo contrário, contou-me Nivaldo que ficou muito surpreso com a visita do Dr. Carlos no velório do seu pai, principalmente quando ele lhe falou: “seu pai era um grande homem, fomos adversários políticos, mas não inimigos. Era um homem honrado”.

Foi com bastante saudade que o seu filho Nivaldo Guerreiro comentou: “além de um excelente pai, nos deixou o ensinamento de que devemos fazer o bem sem olhar a quem, tudo o que ele fazia era puramente de coração, pela sua fidelidade aos princípios cristãos, baseado no amor ao próximo, na caridade. Para ele era uma forma de dar o dízimo, baseado no que está escrito em Deuteronômio, 16:17 e em Coríntios, 9:17.”

Pode-se afirmar que José Batista Guerreiro (Zé Batista), conviveu entre os altinenses durante praticamente 78 anos, lutando, batalhando, para sustentar a sua família e poder dar uma educação de qualidade aos seus filhos. Foi um grande cidadão, quase um altinense nato, que durante toda a sua existência aqui na terra, sempre demonstrou um grande apreço pela nossa Altinho, a prova disso foi a sua participação nos movimento sociais e políticos, a sua forma de se relacionar com os menos favorecidos procurando melhorar suas condições de vida, bem como, a do próprio ambiente, deu uma grande contribuição na transformação, de alguns espaços da cidade que certamente estão na memória coletiva dos altinenses.

Zé Batista apesar de sua baixa estatura foi grande homem, um católico fervoroso, acreditava no Magistério da Igreja católica respeitando suas tradições, participando de diversas atividades nela realizadas, em particular na Matriz de Nossa Senhora do Ó, contribuindo de forma bastante efetiva.

Zé Batista, como era conhecido por todos, faleceu no dia 21 do mês de março do ano de 2016, deixando muitas saudades aos familiares, amigos, enfim, ao povo de Altinho, principalmente.

É preciso que os jovens altinenses conheçam pelo menos parte da história de grandes personagens que, de uma maneira ou de outra, rico ou pobre, deixaram marcas positivas durante as suas trajetórias como cidadãos da comunidade, e, de certo, o homem aqui relatado dentre tantos, haja vista suas lutas pelo bem comum, foi um guerreiro.

Autor: Antonio Airton de Barros.

Escrito em 27.07.2020, a partir de relato de Nivaldo Batista Guerreiro que contou com a colaboração de: Orlando Batista Guerreiro; José Petrúcio Rodrigues; Pe. Ediberto; e o popularmente conhecido “Zé da Viagem.

Fotos: Nivaldo Batista Guerreiro.


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postado por Altinhoshow

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