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ALTINHO URBANO: Uma Barraca, uma memória, escrito por Antonio Aírton


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As sociedades humanas, ao longo dos tempos sempre demonstraram preocupação em transmitir sua memória para as gerações futuras. A memória, historicamente falando compõe-se dos testemunhos preservados do passado de uma sociedade ou de um grupamento social, que permitem a reconstrução da sua história.
Em várias sociedades, os testemunhos do passado estão guardados nos mitos, nas lendas, nas construções e que são passados oralmente de geração para geração. Existem outras sociedades que deixaram seus testemunhos em obras literárias, em construções, cartas, objetos, etc., e que nos faz recordar, inclusive.
Em Altinho, por incrível que pareça, ainda sobrevive ao tempo uma velha barraca que tem mais de (quatro décadas) e que ainda se encontra em bom estado de conservação, apesar de ter passado por algumas pequenas modificações. É uma barraca que marcou demais a minha infância, e, talvez a de muitos dos meus amigos. Achei importante descrever como foi que surgiu a barraca, quem foram os primeiros proprietários e qual a sua importância para os mesmos, qual a influência na vida de seu idealizador.
Elias Cavalcante de Souza, era o esposo de Dona Delina. Ele era funcionário da Prefeitura do município de Altinho e na época ganhou um terreno que havia ao lado do Açougue Público da cidade, do então prefeito José Félix Rodrigues, onde foi construída a barraca.
O Sr. Elias também era responsável pelo serviço de distribuição da água, encanação e dos reparos dos canos sendo ajudado pelos seus filhos; isto por volta dos anos de 1954. Ele ficava despachando água e Dona Delina, sua esposa, era quem sempre ficava na barraca onde vendiam um famoso caldo de cana com bolinhos feitos por Dona Delina. É importante destacar que o engenho que moía a cana para tirar o caldo encontra-se preservado na residência de Joaquim Cavalcante.
Contudo, o que me fazia sentir atraído pela barraca era algo além disso, eram os produtos que lá vendiam tais como: as balas e os bombons que ficavam expostos em um mostruário feito de potes de vidro que giravam, com os chocolates da época, os sonhos de valsa, os pirulitos Zorro, os dropes, e, principalmente as caixinhas de uvas-passa.
Hoje chego a pensar que o que me fez guardar até os dias atuais saudosas lembranças daquela barraca foi o fato de ver todos aquelas guloseimas e eu não dispor do dinheiro para comprar.
Outro ponto marcante e de grande relevância é que aquela barraca ajudou a organizar e estruturar uma família descente, honrosa digna e de brio invejável numa época inclusive onde o machismo, era prática comum, tempo em que a mulher limitava-se apenas aos trabalhos domésticos e o “macho” era servido nos mais variados aspectos, sem sequer conhecer os lidos domésticos, aquela família mostrou união, convicção e senso de cooperação mútua.
Mas, quem foi mesmo Dona Delina? Conforme foi dito anteriormente ela era a esposa do Senhor Elias Cavalcante. Filha de uma Senhora conhecida na época por “Mãe Tetê” e também “Mãe Nenem” e que fazia bolos para vender junto com sua filha nas festas de fim de ano do antigo Sítio Cabeleira, no município de Cachoeirinha e nas festas de nossa cidade.
Naquela época, a luz acendia as cinco horas da tarde, que era a luz elétrica do Sr. Manoel Licó e as dez da noite se apagavam. Dona Delina criava porcos e galinhas para ajudar no orçamento da casa e na educação dos filhos. Quando a luz se apagava ela ascendia um candeeiro à cuviteiro, colocava na cabeça que era para lavar roupas e limpar a pocilga pois durante o dia ela trabalhava no roçado e depois ia para a barraca e vez por outra também ia para o chafariz, mesmo tomando conta dos filhos.
Quando a noite chegava, na época da colheita, o carro de boi vinha trazendo o milho e o feijão do roçado e ela junto com os filhos colocavam as sementes para dentro de casa, inclusive quem muito ajudou nessa tarefa foi a Senhora Ione Pessoa, pois era vizinha e muito amiga da família.
Dona Adelina Pires (Delina), era irmã de Dora Pires – mulher que também cheguei a conhecer e era muito amiga de minha mãe – Terezinha Pires e de José Pires. Teve os seguintes filhos: João Cavalcante de Souza Sobrinho, conhecido por Joãozinho de Delina (falecido), José Cavalcante de Souza, conhecido por Leo Caminhoneiro, Joaquim Cavalcante de Souza, conhecido por “Quinca de Delina”, Bartolomeu Cavalcante de Souza, conhecido por Berto de Delina, militar em PE, Rita Maria Cavalcante de Souza, bancária aposentada e empresária dona de uma pousada por nome de “Sonho do Porto”, em Porto de Galinhas, Elias Cavalcante de Souza Filho, conhecido por Lilia Pesão que era músico e motorista particular (falecido) e Maria Aparecida Cavalcante de Souza, conhecida por Cida de Delina.
Rita se casou e tem como filhos: Gustavo, Marcelo e Cíntia; Joãozinho foi trabalhar em São Paulo, se casou e teve 11 filhos, com o tempo voltou para o Recife e lá se estabilizou; José Cavalcante, carinhosamente chamado de Leo, muito vaidoso por sinal, foi morar por um tempo em São Paulo, casou, tem dois filhos e é proprietário de duas scânias, tem dois filhos: Paulo Sérgio e Marcos; Leo, transportava ferro em um caminhão para a empresa COSIPA.
Contou-me Ione que certo dia por brincadeira lhe rogou uma praga para que ele possuísse uma scânia, e disse: “Não é que a praga pegou mesmo!!” Berto foi Sargento da Polícia Militar, casou-se com Dona Marta, teve uma filha desse casamento por nome de Márcia e também foi pai de um rapaz com outra mulher conhecido por “Macoca”, (ambos falecidos); Elias teve dois filhos: Cheyla e Joaquim Cavalcante Sobrinho, conhecido por Quinzinho; Cida, é mãe de dois filhos: Daniel e Douglas; Joaquim Cavalcante trabalhou, à princípio, na barraca junto com sua irmã Rita, mas também botava uma barraquinha para vender uvas, chocolates, maçãs, uvas-passa, era só produtos finos, segundo Ione, além de bolos e bombons que Joaquim comprava na fábrica da EMBARÉ, isto nas festas de fim de ano de nossa cidade. Ele e Rita ainda vendiam um tabuleiro de balas e chocolates em frente ao Cinema Santo Antônio, de propriedade do Sr. Antônio Andrade. Depois Joaquim foi embora para São Paulo, e, já namorando com Iolanda, depois de um certo tempo, veio embora de São Paulo, casou-se com Iolanda e foi trabalhar com Júlio Rodrigues Filho na Cooperativa de Altinho. Também chegou a ser Vereador no nosso município na década de 1976. Tem dois filhos: André Pessoa Cavalcante, então Major da Polícia Militar de Pernambuco, lotado no 4º BPTRAN, ocupando o Posto de Coronel foi promovido pela segunda vez em 2015, a primeira foi publicada no Diário Oficial do Estado de Pernambuco no dia 21 de março em Ato assinado pelo governador Paulo Câmara promovendo ao posto de Coronel da PM pelo princípio de Merecimento e a segunda foi publicada no dia 18 do mês de novembro no Diário Oficial de Pernambuco através do Ato de Nº 7514 assinado pelo governador de Pernambuco, reportagem completa contida no Jornal Myster do dia 21-11-2015; Paulo Henrique, Auditor Fiscal e que também é Engenheiro Civil. André é casado com Marcleide que é filha do conhecido médico que já prestou serviços em Altinho, ex-prefeito da
cidade de Jurema, o Sr. Dr. Anacleto e que tem como filhos: Meyrelle e Felipe; Paulo tem como esposa Cláudia, conhecida por “Kaká”, é dentista e tem as filhas Bruna e Bianca.
Após trabalhar na Cooperativa de Altinho, Joaquim Cavalcante foi para o Recife trabalhar na COCANE – outra Cooperativa – na função de gerente, cooperativa esta que tinha filial em Maceió e em Petrolina. Depois foi ser gerente da Casa da Uva, em Recife, mas isto depois que se aposentou. E, após alguns anos ainda foi ser gerente de uma outra firma a “AGRO SANTOS” instalada também na capital pernambucana, lugar onde mora há mais de quatro décadas e, mesmo com tanto tempo em Recife, mesmo assim não consegue esquecer da nossa terrinha. Joaquim é um dos tantos cidadãos inclusos no grande rol de altinenses ausentes. Na minha concepção, é um altinense de uma inteligência extremada, homem culto, de educação exemplar, que soube assim como os demais irmãos honrar e dar seguimento aos ensinamentos transmitidos pelos seus pais que foram pessoas humildes, mas que de tudo fizeram para vê-los bem estruturados, honrados, e, como dizia a minha saudosa mãe, ao fazer uso da linguagem popular: “sabendo entrar e sabendo sair”.
Tanto Dona Delina quanto o Senhor Elias, eles souberam repassar os valores essenciais para que todos da família pudessem viver e conviver bem e em harmonia. E a barraca com certeza foi um parâmetro que ajudou na boa formação da família.
Quando passo em frente a velha barraca, que, diga-se de passagem, deveria estar mais bem conservada, mais bem cuidada, até pelo ponto onde se encontra e mesmo pela história que ela tem, me vem reminiscências que me fazem viajar no tempo.


Autor: Antonio Airton de Barros – Professor Especialista no Ensino de História.
Escrito e publicado no Jornal Myster em, 08.05.2010.
Editado em, 05.09.2019
Fotos da Barraca: Arimatéia Sobral/Antonio Airton.
Fotos da família gentilmente cedidas por Jaidene Alves


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postado por Altinhoshow

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