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Uma história de esperança




A advogada Germana Alencar cansou de ouvir as pessoas do seu entorno minimizarem uma dor crônica e intensa que ela sentia e precisava superar durante oito dias, a cada mês,  ao mesmo tempo em que enfrentava a rotina diária. Aquilo a incomodava não só pelo sofrimento físico. Era como se falar das dores insuportáveis e paralisantes fosse sinal de fraqueza. Desde a adolescência era assim, mas Germana passou a suplantar a dor muitas vezes no silêncio. Via-se submetida à cultura muitas vezes imposta à mulher, que dita algo como “essa dor é normal” para um corpo feminino.

Germana recorda até hoje quando, ainda menina, esperava o horário de encontrar uma colega adolescente que tinha acesso a um remédio mais potente para suportar as dores para que ambas assistissem às aulas regulares. Demorou para que ela descobrisse que não se tratava de “bobagem ou fraqueza” sua. Germana era portadora de endometriose e não sabia.

A endometriose é uma condição inflamatória. Afeta 7 milhões de pessoas que menstruam no Brasil e 176 milhões no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença acontece quando a camada interna do útero, chamada de endométrio, migra para fora e se espalha por outros locais do corpo, causando lesões e inflamações aos órgãos.  

A endometriose é tema de uma grande campanha nacional intitulada Março Amarelo. Ela é voltada para a conscientização desta condição tão negligenciada na saúde da mulher e na luta por diagnósticos precoces. Entre 80% e 90% das mulheres que sofrem com a endometriose enfrentam cólicas menstruais e dores nas relações sexuais, dor pélvica, anemia e fadiga, dor ao defecar ou modificação do funcionamento intestinal. As mulheres em fase reprodutiva enfrentam risco ampliado da infertilidade. Estudos estimam que 40% das pacientes com idade reprodutiva e com endometriose lidam com problemas para engravidar.


Germana Alencar, por exemplo, queria engravidar e, até poucos anos atrás, achava que não poderia – ainda que não soubesse ao certo a razão do impedimento. Em 2018, já adulta, a partir de um diagnóstico mais preciso e com a ajuda de exames mais detalhados, descobriu que tinha endometriose. A advogada passou a dar a merecida atenção à doença.  O tratamento adequado e a realização de uma cirurgia, em 2019, foi uma libertação para ela.  Ao mesmo tempo, outros exames revelaram uma série de problemas desde o nascimento. A Malformação mulleriana (no caso, útero unicorcocom corno rudimentar) – associado à hematossalpinge – foi uma das descobertas. Trata-se de uma anomalia do trato reprodutivo feminino que também precisava de atenção.

“A endometriose é uma doença que costuma ser cercada de mitos e falsas verdades, o que tem relação direta com a falta de informação”, diz a médica radiologista Andréa Leite. “Precisamos estar unidas para propagar dados corretos, falar da importância do acompanhamento regular dos especialistas e da realização de exames acurados para que providências sejam tomadas e as mulheres possam ter uma vida saudável”, completa Andréa Leite, do Centro de Diagnóstico Lucilo Ávila (CDLA), instituição referência em exames de imagens em Pernambuco e que encampa agora em março a Campanha Nacional Amarelo-Lilás.

O diagnóstico da endometriose pode ser feito a partir de exames como a ultrassonografia, a ressonância magnética e análises de sangue. Em centros de imagem como o Lucilo Ávila, os exames destinados ao diagnóstico são as ultrassonografias transvaginal comum e a ultrassonografia com preparo intestinal, para mapeamento da endometriose, e a ressonância magnética da pelve. Já o exame com preparo intestinal recomendado às mulheres com endometriose consegue investigar com detalhamento e precisão a saúde dos compartimentos da pelve, incluindo ligamentos importantes, útero e ovários. Permite ainda visualizar trompa, bexiga e ureteres e porções do reto inferior, médio e superior. E ainda possibilita a visualização das estruturas sutis como o peritônio, que recobre os órgãos pélvicos e abdominais. Com exames complementares de imagem, faz-se um mapeamento pélvico capaz de mostrar à equipe médica a localização, tamanho e extensão das lesões.

Além da medicação adequada para reduzir as dores geradas pela endometriose, a cirurgia de Germana trouxe uma esperança que ela já não nutria mais: “Imaginei que não poderia engravidar. Mas eu posso e você não imagina o que isso significou para mim”. Ela chegou a engravidar, mas acabou por perder o bebê. Foi uma notícia das mais tristes. A gestação, no entanto, lhe renovou a esperança de ser mãe e a alegria de saber que seu corpo pode gestar.

A recomendação dos médicos é que, assim como Germana, mulheres que sentem dores persistentes e crônicas procurem um ginecologista de sua confiança e faça com regularidade o acompanhamento diagnóstico em imagens. Se possível, contando com especialistas em endometriose. 
Foto: Divulgação.
Fonte: Edivaldo Magalhães

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postado por Altinhoshow

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